Acordei no dia seguinte bem melhor, o tempo extra de sono me fez bem. Notei que a magia negra tinha voltado, não sabia se ficava feliz ou triste. No final das contas eu fiquei feliz. Tomei meu banho, escovei os dentes e resolvi buscar o café da manhã na cozinha, antes que viessem trazer para o quarto. Peguei os três cartões de estudante e fui. Quando voltei o Glaucos estava no banheiro e o Miro estava dormindo ainda. Deixei a comida encima da mesa e fui acordá-lo. Sentei na cama dele e disse:
-Bom dia.
Ele abriu os olhos e deu um sorriso torto.
-Já está mais disposto Ângelo?
Um sorriso malicioso cruzou seu rosto.
-Depende...
Ele me puxou pra perto dele e me cobriu com o cobertor.
-Se você está me chamando para dormir, eu tenho disposição para isso com certeza.
Ele riu e me beijou no rosto.
-Te amo sabia? - ele disse.
Ah, ele era tão fofo.
-Acho que eu sabia.
Comecei a rir. Ele me abraçou e disse:
-Bobo.
Como era bom estar com ele...
-Eu sei, é o que todos dizem.
Ele arqueou a sobrancelha.
-Ah é? Então eu sou só mais um?
Não me aguentei, comecei a gargalhar.
-Claro que você não é só mais um.
Eu o beijei na bochecha.
-Sei, sei.
Ele ficava tão bonitinho quando estava bravo. Mas só quando estava um pouco bravo, muito bravo ele me dava medo.
-Você devia ficar feliz, eu nunca deitei na cama de outra pessoa que não fosse a minha, ainda mais quando o dono da cama ainda estava nela.
Consegui arrancar um sorriso em seu rosto. Ele começou a acariciar meu cabelo.
-E você devia ficar feliz porque você é a primeira e última pessoa que eu gosto de verdade.
Meu rosto ficou vermelho, que coisa mais fofa!
-Aaahhhh, que lindo.
Eu apertei a bochecha dele, ele ficou vermelho.
-Eba, te deixar vermelho é legal, dá uma sensação de vingança que você não tem idéia do quão é boa.
Ele me encarou por alguns segundos, rindo.
-Nem ligo, é fácil te deixar vermelho.
Ele segurou a minha mão e colocou-a na bermuda dele, pude sentir a coxa dele.
-Hum, ok, não precisa apelar.
Tirei minha mão de lá, com o rosto mais vermelho que o dele e me levantei.
-Você não ficou chateado né?
Não era essa a impressão que eu quis passar, mas avaliando melhor, parecia.
-Não, é só que não quero que o Glaucos saia do banheiro e me veja na sua cama, embaixo do cobertor com você.
E também porque eu tinha medo de não ter tanto controle quanto deveria, mas isso não precisava ser citado.
-Bem, - eu continuei. - vou arrumar as roupas para levar para a lavanderia.
-Ok, quando o Glaucos sair do banheiro você me avisa.
Comecei a juntar as roupas sujas e colocá-las numa sacola, quando eu estava quase terminando o Glaucos saiu do banheiro. Fui até a cama do Miro e comecei a deslizar o dedo pela sua coluna. Ele se arrepiou e acordou meio assustado.
-O Glaucos saiu do banheiro. – eu disse com o rosto mais angelical que consegui fazer na hora.
-E foi assim que você resolveu me avisar?
Eu não conseguia decifrar se ele estava bravo, constrangido ou se tinha gostado. Bem, melhor prevenir do que remediar.
-Ok, lembrarei de não fazer de novo. – eu disse sorrindo.
-Você pode fazer de novo...
Seu rosto ficou meio vermelho. Ok, ele só não gostava de ser pego de surpresa.
-Bom dia pra vocês também. - o Glaucos disse.
-Bom diaaa Glaucos.
Fui até ele e o abracei.
-Pronto, agora você não precisa ficar enciumado. – eu disse sorridente.
Ele pareceu meio confuso.
-Mas eu não tava enciumado.
Eu o larguei.
-Feliz? Agora não estou te abraçando mais, já que você não estava enciumado.
Ele levantou a mão e começou a falar, mas depois ficou quieto.
-Ângelo, eu to confuso, quero minha mãe.
Ele disse aquilo com muita cara de coitadinho, eu e o Miro rimos muito.
-Eu vou tomar banho. - disse o Miro.
-Eu vou tomar café. - eu disse.
-Também vou tomar café. - o Glaucos disse.
-Mas... – começou o Miro. - se vocês tomarem café agora, eu vou tomar café sozinho depois.
Eu e o Glaucos nos entreolhamos.
-Sim, e daí? Eu não gosto de você. – o Glaucos disse, com cara de desdém.
O Glaucos foi tão convincente que o Miro quase começou a chorar.
-Brincadeira Miro, você sabe que eu te amo.
O quê?! Lancei um olhar de ódio a ele.
-Como amigo, Ângelo, não vou roubar ele de você.
Eu não era inseguro, só... hum... ok, eu era inseguro.
-Eu te espero pra tomar café. – disse o Glaucos para o Miro.
-Eu também vou esperar, enquanto isso fico nas árvores.
O Glaucos começou a rir descontroladamente.
-Isso mesmo Ângelo, vai lá dar uma de rei da mata.
Meu rosto ficou muito vermelho.
-Glaucos!
Eles riram demais, o Miro quase caiu no chão de rir.
-Ahhh, seus nojentos.
Quando sai pela janela ainda pude ouvi-los rindo. Eu não estava nervoso, mas fiquei bem envergonhado com o comentário, porque seria mais simples se eu pudesse tirar energia do ar. Fiz uma promessa a mim mesmo: eu aprenderia a fazer isso.
Voltei para o quarto assim que vi o Miro lá dentro, ele e o Glaucos estavam sentados à mesa. Assim que entrei o Glaucos disse:
-Ângelo, matou alguma coisa pra comermos?
Podíamos dizer que se olhar matasse, então sim, eu teria matado algo para comer. Ele.
-Não, mas se você estiver se voluntariando...
O Miro começou a rir. Eu também sentei.
-Ângelo revoltado, - disse o Glaucos. - num pode nem brincar com ele.
-Eu não estou bravo. – minha voz disse o extremo oposto.
Peguei um pão e coloquei queijo nele.
-Mesmo?
Mesmo? Não sei, acho que eu estava, mas... sei lá, não estava com raiva deles, estava com raiva de mim mesmo.
-Eu quero aprender a retirar energia do ar, e o fato de eu não saber isso me incomoda.
Eles se entreolharam brevemente.
-Entendi. – disse o Glaucos.
Tomamos o café da manhã e fomos para a academia, passando na lavanderia para deixarmos nossas roupas sujas lá. Na aula da manhã o professor estava dando teoria do vento, mostrando que apesar de ele não ser uma investida tão poderosa quanto o relâmpago ou fogo, ainda assim podia ser uma arma letal se bem usado. Para minha felicidade ele nos ensinou as duas coisas que eu queria aprender: como tirar energia do ar e como mandar mensagens de vento. Era complicado tirar energia do ar, porque o foco tinha que ser muito vago, mas depois de um tempo eu peguei o jeito, já as mensagens de vento demorou um pouco mais. Contudo, no fim do dia eu havia aprendido ambos.
Assim como em quase todos os dias dessa semana eu esperei os outros saírem da arena e fui até o professor.
-Vamos para a sala, tenho muitas novidades para você. – ele disse sorrindo.
Quando estávamos quase na sala um espadachim de cabelos vermelhos interceptou o professor.
-Érebo, aquilo que você me pediu.
Ele entregou uma pequena caixa metálica para o professor
-Ah, que maravilha, muito obrigado, deu certo?
Viva, vamos deixar o Ângelo às escuras, ele não está curioso.
-Devo admitir que foi muito difícil, mas está perfeito, eu nunca tinha feito algo assim.
O professor ficou muito feliz com a notícia.
-Excelente... muito obrigado Arges.
-Não há de que. – ele respondeu sorridente, apertando a mão do professor.
Entramos na sala e ele colocou a caixa encima da mesa dele, eu sentei numa cadeira que ficava de frente para a mesa.
-Ângelo, você se lembra porque estava fazendo os trabalhos para mim?
Explicações, até que enfim!
-Porque você ia me dar o metal para fazer o orbe.
A diferença de humores da sala era gritante. Eu estava estressado porque estava curioso e ele parecia muito excitado com toda a coisa misteriosa.
-Exatamente, porém, eu menti em uma coisa, quando eu te prometi o metal, eu não o tinha.
-Ah...
Que legal da parte dele...
-Eu sabia que aquela pedra não podia ser combinada com um metal comum, então nós fizemos um metal que se adéqua a ela.
Nós o quê?!
-Desculpe, não entendi. – eu disse, um tanto quanto perplexo.
-Nós fizemos o metal Ângelo, durante todos esses dias.
Então era isso, o feitiço na pedra negra. Finalmente as coisas começaram a fazer sentido...
-Mas... – eu comecei. - aquilo não era um metal, era uma pedra.
-Só a cobertura. – ele disse animado. - Era prata coberta com rochas negras vulcânicas. Se fizéssemos o encantamento direto na prata ela emitiria uma luz que nos cegaria. Nós fizemos o feitiço da lua para transformar prata em um metal muito raro, chamado luna.
-Hum...
Eu nunca tinha ouvido falar desse metal.
-E para a minha felicidade o encantamento foi um sucesso.
Se depois de tudo aquilo tivesse dado errado...
-Ontem mesmo eu entreguei a luna e a pedra dos sonhos para o Arges, e ele acaba de me dar o seu orbe.
Ele tirou da caixa um orbe prateado com a forma de um sol coberto, em parte, por uma lua crescente. A parte da lua era um pouco mais fosca enquanto que a parte do sol brilhava vividamente. E entre o sol e a lua, no centro do orbe estava a pedra dos sonhos. Eu fiquei maravilhado com aquilo.
-Uau...
Não havia palavra para aquilo, era... lindo!
-É realmente muito bonito, você sabe o que significa?
O eclipse...
-O eclipse solar, a mais poderosa arma de um mago negro.
Segundo os livros quando há um eclipse solar o poder dos usuários da luz é drenado porque seu regente natural “morre”, enquanto que os usuários de magia negra recebem esse poder, ficando ainda mais poderosos.
-Vamos lá Ângelo, coloque-o, você mereceu.
Eu me aproximei dele e peguei o orbe, quando eu o toquei a parte da lua ficou brilhante e a parte do sol ficou fosca.
-O que...?
-Ele responde ao contato, - o professor respondeu rapidamente. - como eu sou um mago branco ele deu forças ao sol, mas agora que está em suas mãos, as forças estão na lua.
Era impressionante! Eu nunca tinha visto um orbe que fizesse isso!
-Isso é muito legal!
Tirei meu orbe da mão direita e coloquei o novo. No exato momento eu senti a diferença, os sentimentos do professor estavam bem mais claros, dava para sentir os rastros de magia negra no ar da sala, apesar de o Caronte já ter deixadoo a sala a algum tempo.
-Eu não tenho palavras para dizer... isso é fantástico.
Eu estava maravilhado com aquilo, mas o Érebo pareceu estar desconfortável com alguma coisa.
-Tenho mais uma notícia, mas fico receoso em dá-la.
Bem, era bom demais para ser verdade, tinha que ter algo ruim...
-Pode falar.
Ele ficou meio pensativo, mas começou a falar:
-Seu orbe pode guardar sua magia negra por você.
Meu coração quase parou, isso era... impossível, não... não podia ser..
-Ele pode o que?!
Eu não sabia se estava feliz. Ok, eu estava, mas eu sentia muito medo também. Eu sempre vi a magia negra como um fardo, um grande e penoso fardo, e agora ele me diz que existe um jeito de eu me livrar daquilo.
-Bem, - ele continuou. - em vez de você restringir sua magia negra dentro de si, você pode fazer com que o orbe faça isso. Tente, queira que o orbe guarde a magia negra.
Eu não estava acreditando, mas pedi para o orbe guardar minha magia negra, em pensamento. No mesmo instante me senti livre, meu cabelo estava totalmente azul, eu não sentia aqueles puxões dentro de mim e a pedra dos sonhos ficou roxa.
-Ângelo, eu sei que você está muito feliz por... “se livrar” da magia negra, mas não quero que você faça isso.
Eu olhei para ele, incrédulo. Ele fazia ideia do que estava me pedindo?
-Por quê?
Eu não consegui dizer mais do que isso. Pensar em tudo que a magia negra já tinha me causado, o tempo que eu preferi ficar sozinho a machucar os outros, o preconceito que eu sofri, o ataque que recebi da Penumbra... tanta coisa ruim que eu podia simplesmente tirar da minha vida agora, e ele queria que eu deixasse?!
-Primeiro porque o orbe só manterá sua magia com ele enquanto vocês estiverem conectados e segundo porque agora você é um mago negro muito mais forte do que pode imaginar.
Eu avaliei o que ele havia me dito, isso não era nem de longe um argumento bom o suficiente, estávamos falando de anos de solidão!
-Você tem certeza de que o melhor é eu usar a magia negra?
Pensar na magia negra como minha forma de ataque também era problemático. Ela usava o que havia de mais sombrio e oculto nas pessoas, ela vasculhava suas fraquezas e as usava contra o oponente. Às vezes eu via isso como sendo injusto, eu podia dominar o medo e a morte. Duas coisas muito complicadas de se lidar.
-Se você não usasse magia negra, a luna jamais poderia ter sido feita.
Esse era um ponto, eu era uma exceção. Só eu e o Caronte podíamos completar uma gama enorme de magias, por sermos magos negros. Então basicamente eu tinha que escolher entre o meu bem estar e facilitar a vida do resto das pessoas da nação. Meu primeiro pensamento foi simples: eles não gostavam de mim, não tinha porque eu fazer algo por eles. Porém isso não era bem verdade... seria na nação Jolnir, mas aqui? As pessoas me receberam bem, pelo menos a maioria... eu tinha amigos, e eles não se importavam de ficar perto de mim, mesmo que isso machucasse um pouco de vez em quando. Eu não podia culpá-los pelo que me aconteceu, e agora eu estava num novo patamar da minha vida, eu devia agir como tal. Em resumo, eu não ia desistir da magia negra... até porque eu ia me sentir incompleto, apesar dos pesares.
-Entendi o seu ponto de vista, mas ainda tem uma coisa... sobre a luna, porque não fazem mais metais desses? Afinal, o Caronte também poderia fazê-lo.
Apesar de ter sido um pouco difícil o processo... fiquei imaginando que outras coisas eu poderia fazer...
-Porque esse metal só tem efeito com pedras como a dos sonhos, - ele disse, seu rosto suavizando um pouco a preocupação que até agora se encontrava ali. - não se pode usar a luna com diamante ou esmeralda, o metal não aceita.
Eu não entendia muito bem esse tipo de coisa, mas acho que fazia sentido um metal específico não aceitar uma pedra genérica.
-Acho que entendi.
Minha cabeça estava meio atordoada, eu fui submetido a muita coisa ao mesmo tempo agora. Não vou dizer que foi fácil me contentar com a continuação do uso da magia negra, eu sabia o que significava o que eu estava fazendo, mas... era assim que eu era. É como se eu tivesse escolhido não tirar um defeito meu. Não faria sentido tirar, porque eu ficaria incompleto. As pessoas não são só qualidades... na verdade, as verdadeiras relações não se baseiam em gostar das qualidades do próximo, mas conseguir conviver com seus defeitos. Se eu tirasse esse meu defeito, eu não saberia mais o que seria uma relação de verdade, seja de amizade, seja de amor, seja de qualquer coisa... Acho que fiquei pensando muito tempo, porque o Érebo estava me encarando de um jeito meio estranho.
-Você está bem? – ele perguntou um pouco preocupado.
-Acho que sim. Eu vou continuar usando a magia negra, e esse orbe vai me ajudar a controlá-la.
Ele ficou bem mais tranquilo, um sorriso se abriu em seu rosto.
-Fico feliz em saber disso. Só tenha cuidado com isso, quando a magia pedir para ser libertada, não pense duas vezes, ela é a sua arma.
“A magia pedir para ser libertada”... que estranho pensar na magia tendo vontade própria...
-Vou me lembrar disso.
Muitas coisas para lembrar...
-Agora, sobre sua aula especial. Vou te ensinar o que seu orbe pode fazer.
Ele falou sobre as propriedades da luna e da pedra dos sonhos, e sobre quando se combinavam. Também explicou sobre o efeito do orbe durante a noite ser ainda mais forte do que de dia, já que meu regente natural estaria mais presente. Por fim ele exemplificou a força do orbe, pediu para eu fazer um escudo de trevas em volta de mim. Ele me atacou com várias magias de luz, mas a maioria parou no escudo, poucas conseguiram atravessar.
-E que fique bem claro, - ele disse, aparentemente terminando a explicação. - o orbe só funciona bem com magia branca e negra, assim como seu escudo de trevas só inibe ataques mágicos de luz e escuridão.
Essa era a parte meio ruim da coisa, minha magia de gelo não ganhava muito com esse orbe. Mas... um passo de cada vez.
-Entendi professor, obrigado por tudo.
Eu o abracei. Eu estava feliz pela preocupação que ele teve para comigo, e também pelo sacrifício que ele fez... assim como o encantamento me desgastou, também esgotou a ele.
-Só estou fazendo meu trabalho, não precisa me agradecer.
Quem dera todo mundo fizesse o próprio trabalho dessa forma...
-Você faz seu trabalho muito bem, muito obrigado mesmo.
Fui para casa praticamente saltitante, como não havia quase ninguém na rua, provavelmente não tinha problema em eu fazer isso:
-Alaaadoooo!!!
Ganhei minhas asas de gelo e voei até o prédio, cheguei nele muito cansado, mas o importante é que eu voei! E foi muito bom! Dei boa noite para a recepcionista, subi as escadas quase correndo e abri a porta com um sorriso largo no rosto.
-Ângelo, você chegou e... wow, que orbe é esse?! - disse o Glaucos.
O Miro, que estava deitado lendo um livro, veio até mim quando escutou sobre o orbe, olhou para o orbe e disse:
-Essa é a pedra dos sonhos? Ela não era transparente?
Olhei para o orbe, ele parecia meio sinistro agora que a pedra dos sonhos estava roxa.
-Ela é, mas no momento ela está guardando minha magia negra, por isso ela está roxa.
O Glaucos me olhou com muita felicidade no rosto.
-Isso quer dizer que você não precisa mais ficar controlando a magia negra?
Confirmei com a cabeça, com um sorriso no rosto.
-É, o orbe vai fazer isso por mim, não é o máximo?!
Provavelmente eles nunca tinham me visto tão feliz, era muito bom sentir-se livre e sem machucar ninguém.
-Agora você pode vender seu velho orbe e tentar comprar outro melhor. - disse o Glaucos.
Esse era o meu plano. Talvez fosse um pouco difícil, mas eu tinha o sábado todo para isso.
-Sim, o eclipse só funciona bem com magia negra, preciso de algo para a magia gélida. - eu respondi.
Fui até a minha cama e sentei, tentando me programar para o fim de semana.
-Eclipse é o nome desse orbe? - perguntou o Miro.
Eu falei o nome sem pensar, mas era um nome legal.
-É, acabo de inventar. – eu disse rindo.
Deixei meu corpo solto e deitei com os braços estendidos. Era bom ter um pouco de sossego.
-O que ele falou sobre o encantamento? - perguntou o Glaucos.
Eu expliquei para eles o encantamento da lua e tudo que o professor havia dito sobre o orbe.
-Eu disse que era algo poderoso. - disse o Glaucos com cara de “eu sempre tenho a razão mas ninguém me ouve”.
-É...
Eu fui pedir a janta e depois ficamos conversando sobre o final de semana. Eu disse que no sábado pela manhã eu ia tentar vender o orbe e tentar comprar um melhor e de tarde eu veria minha mãe, ainda não havia decidido o que fazer no domingo. O Miro disse que podia ficar o domingo comigo, se eu quisesse. O Glaucos emendou dizendo que ficaria o final de semana todo com a família, porque não aguentava mais nos ver. Nós rimos do comentário. Fui dormir feliz aquele dia e acordei mais feliz ainda por notar que não sonhei com nada.

O dia seguinte seguiu a rotina de sempre, pelo menos até a parte de separar os livros na biblioteca. Um dos livros me chamou a atenção. Tinha um aspecto mais antigo que os outros e possuía uma marcação laranja e roxa na capa, o que significava que era um livro da seção reservada. O título era Magias poderosas e mortais. Achei que fosse um livro de magia negra, por causa do título, mas na verdade era de todos os elementos. Eu sabia que não poderia ver esse livro de novo e minha curiosidade estava muito grande. Levei-o até a área de livros de magia negra e o coloquei atrás de alguns outros livros. Como eu e o Caronte éramos os únicos magos negros daquele lugar seria difícil alguém encontrá-lo. Voltei ao meu lugar de marcação de livros bem na hora que o professor chegou.
Novamente fomos até a pedra negra, hoje ela parecia mais brilhante, e fizemos o encantamento. Como no dia anterior eu senti como se a pedra tivesse sugado a magia negra de mim.
Voltei para casa pensando se valia à pena continuar avaliando as pessoas para achar o dono da voz na minha mente, já fazia tanto tempo que isso acontecera e eu não tinha progredido nem um pouco. Além disso, dia após dia o Caronte me ajudava com as magias negras e eu o ajudava com as magias de gelo, já que ele já tinha aprendido bem as de levitação. Posso dizer que apesar de sermos tímidos e nossa relação permanecer dentro da sala ou da arena, eu o considerava um amigo, afinal, ele era o único que passava por problemas semelhantes aos meus. Por tudo isso, era difícil acreditar que fosse ele o responsável, mesmo não tendo outra opção.
Entre pensamentos eu cheguei ao prédio, estava prestes a abrir a porta quando ouvi o Miro dizer:
-Ah Glaucos, você sabe que não quero nada sério com ele.
Meu coração gelou.
-É, não é típico seu mesmo, mas você podia namorar alguém melhorzinho, sabia?
O deboche na voz do Glaucos era... assustador. Eu nunca havia o ouvido falando mal de ninguém, mas soava tão perverso... tão cortante...
-Eu sei, mas ele já tava tão fácil, daí não resisti.
Fácil?! As lágrimas brotaram no rosto, eu não podia acreditar no que estava ouvindo! Como eles podiam ser tão falsos?! Eu... eu não podia morar com pessoas assim... de forma alguma! Como eles puderam dizer isso?! Eu fervi em raiva, aquilo não fazia sentido! Eu ia pedir transferência para outro quarto... hoje mesmo. Eu não ia suportar olhar para eles nem por mais um segundo! Infelizmente minhas coisas estavam no quarto. Coloquei a mão na maçaneta e girei, tentando controlar as lágrimas. Entrei no quarto com o coração totalmente dilacerado. Tamanha não foi a minha surpresa ao ver que o Glaucos não estava no quarto. O Miro ficou ainda mais surpreso quando me viu chorando.
-Ângelo! O que foi?
Cínico! Se fingindo de inocente, depois do que tinha dito! E cadê o outro falso?!
-Cadê o Glaucos? – eu disse calmamente, tentando não gritar.
-Ele tá namorando... – ele respondeu, chocado.
Ok, as coisas estavam ficando estranhas, ele estava namorando enquanto o Miro estava no quarto? Eu não tinha ouvido a Higéia...
-Onde?
Foi o máximo que consegui perguntar. Meus punhos estavam fechados e eu ia explodir a qualquer momento. Minha raiva só aumentava com a cara de desentendido que o Miro estava fazendo.
-Em algum lugar do prédio, Ângelo, o que aconteceu?!
Em algum lugar do prédio? Mas ele estava no quarto! Eu ouvi! Isso não fazia sentido!
-Então, você não... estava conversando com ele?
Falando sobre como eu fui fácil e coisas do tipo, seu cretino!
-Que hora?
Não se faça de desentendido!!!
-Agora!!! – eu explodi.
As lágrimas desciam pelo meu rosto, carregadas pelo ódio.
-Não! Eu não estava conversando com ele! Ele veio com a Higéia aqui mas nem entraram no quarto! O que há de errado com você?!
Não... definitivamente não fazia sentido. Ele não podia atuar tão bem, ele estava dizendo a verdade. Mas se era assim, então como eu...? Uma presença fraca de magia negra respondeu a pergunta inacabada.
-Miro, - eu comecei, tentando me acalmar um pouco - prometo explicar, mas agora não dá.
Sequei as lágrimas e tentei rastrear a fonte da magia. Infelizmente estava muito fraca, então não tive sucesso. O Miro me segurou pelos braços.
- O que tá acontecendo aqui?
Eu... não tinha certeza. Mas... na hora eu só conseguia ver uma possibilidade. Desvencilhei-me dele, entrei no quarto e sentei na minha cama. Coloquei as duas mãos no rosto, tentando pensar no que havia acontecido. Não havia dúvidas, eu havia sido atacado, de novo. Ele sentou na cama do Glaucos, ficando de frente para mim. Eu não sabia o que dizer... não verdade nem sabia se ia conseguir falar...
-Desculpe-me...
As lágrimas voltaram ao meu rosto.
-Ângelo, por favor, me diz logo o que aconteceu, eu to preocupado com você.
Era óbvio que ele estava preocupado, seu rosto indicava isso mais do que qualquer outra coisa, mas... como aquilo tinha acontecido?
-É que... quando eu fui abrir a porta, ouvi você e o Miro conversando...
Ele empalideceu um pouco, o que era estranho, já que sua pele era bronzeada.
-Mas isso é impossível!
Eu não o culpava por não estar entendendo nada, eu também não estava até alguns segundos atrás, mas antes de explicar eu precisava me acalmar e acalmá-lo.
-Eu sei... por favor, calma.
Aparentemente o efeito foi o oposto do esperado.
-Não consigo ficar calmo! – ele gritou enquanto levantava da cama. - Você entrou chorando aqui e agora me diz que era porque ouviu uma conversa que nunca existiu!
O medo e a angústia me tomaram, ele pareceu muito ameaçador.
-Miro, deixa eu terminar! E para de gritar comigo!
As lágrimas transbordavam do meu rosto, comecei a soluçar. Ele veio até mim e me abraçou.
-Desculpa Ângelo, desculpa, eu... perdi a cabeça, me desculpa, por favor.
Minha cabeça estava um completo caos. Que confusão foi essa em que me enfiaram?!
-Miro, - eu comecei, tentando miseravelmente manter algum controle. - alguém está usando magia negra contra mim. Essa pessoa me fez pensar que tinha ouvido uma conversa entre você e o Glaucos...
Compreensão passou pelos seus olhos, ele havia entendido o quão ruim podia ter sido.
-E sobre o que era a conversa? – ele perguntou calmamente.
Eu juro que tentei me controlar, mas aquela lembrança foi forte demais.
-Espera. - eu disse.
Tentei secar as lágrimas e me controlar. Respirei fundo e tentei contar...
-Vocês conversavam sobre mim... você disse que não queria nada sério, daí o Glaucos disse que você podia... – as próximas palavras doeram muito para serem ditas... - namorar alguém melhorzinho. Daí você disse que só está comigo porque eu fui fácil...
Ele ouviu tudo atentamente e incrédulo.
-Ângelo, eu... jamais diria isso. Tudo isso é mentira, eu quero algo sério com você e definitivamente você não foi fácil.
Aquilo me acalmou um pouco, mas eu ainda tremia um pouco de raiva.
-Eu vou descobrir quem está fazendo isso, e essa pessoa vai pagar muito caro, mas muito mesmo.
Nós nos encaramos por alguns instantes. Ele segurou minhas mãos com as deles e disse:
-Ângelo, acredite no que eu vou te dizer agora: Eu te amo, de verdade, e nada vai mudar isso.
Eu segurei seu rosto com as duas mãos e o beijei. Eu o beijei como se fosse a última coisa que eu fosse fazer na vida, como se nada mais importasse, porque naquela hora, não importava. Os sentimentos ruins foram me deixando, um a um, até que só o alívio e o amor me consumiam em seus braços.
Fui dormir antes de o Glaucos chegar, no colo do Miro. Eu estava exausto psicologicamente, como se não bastasse aquela pedra ficar sugando minha magia negra ainda tinha alguém me atacando psicologicamente. E pior do que tudo isso, era uma pessoa que me conhecia muito bem, porque a pessoa apostou que eu não entraria no quarto, o que era de se esperar de mim, mas eu entrei só para pegar as malas e acabar com aquilo. De qualquer forma o sono foi mais forte do que a tempestade de pensamentos.
Meu sonho desta noite foi diferente. Eu estava entre a luz e a escuridão, ambos os lados diziam: venha até aqui, não acredite nele. Eu estava confuso, eu nunca soube qual era o meu aliado, se a luz ou a escuridão. Uma garra negra provinda da luz me segurou pelo braço.
-Tarde demais jovem mago.
Acordei com o rosto coberto de suor, já era dia, mas ninguém estava acordado. O Glaucos estava se remexendo na cama, como se estivesse tendo um pesadelo, só então percebi que minha magia negra estava livre. Eu a prendi rapidamente e o Glaucos voltou a dormir tranquilamente. Isso estava ficando fora de controle...
Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Aparentemente eu tinha acabado de lutar com alguém, apesar de eu ter acabado de acordar.
Fiz a rotina diária de todos os dias, guardando em segredo os meus sonhos. Durante o dia prestei o dobro da atenção nas pessoas, mas nada parecia fora do comum, só a Higéia que parecia mais cansada que o normal, o que não era difícil de entender, ela andara treinando muito forte com o Pharos. Não sei se isso poderia ser considerado algo estranho para ser comentado com o Glaucos, não parecia ser com o que ele estava se preocupando...
O treino da tarde estava quase no fim quando o Caronte tocou num assunto inesperado.
-Você está tendo problemas.
Eu teria ficado menos assustado se ele tivesse perguntado, o que não foi o caso.
-Como você sabe?
Algo em seus olhos me dizia que sim, definitivamente ele sabia. Mas eu não havia sido atacado na presença dele, não que eu soubesse da presença dele, pelo menos.
-Está mais fácil ver seus sentimentos, sua defesa está bastante frágil. – ele disse daquela forma meio sem emoção.
Ah é... isso também fazia sentido. O ruim de conversar com o Caronte, é que quase sempre ele estava certo e ainda por cima ele conseguia provar que eu estava errado. Isso era muito frustrante.
-É... eu estou tendo problemas...
O peso da preocupação pairou sobre seu rosto.
-Quer falar sobre isso?
Eu pensei nas possibilidades, se eu falasse o que tinha acontecido e ele fosse o responsável, talvez eu conseguisse notar a culpa em seu rosto, contudo, se não fosse ele, talvez ele pudesse me ajudar. E se eu não contasse, demonstraria que não confiava nele, não que eu confiasse, mas eu queria muito confiar.
-Alguém anda me atacando... – eu admiti.
Foi difícil falar. E mais difícil foi ver que ele não ficou surpreso com aquilo, ele só parecia... preocupado, talvez chateado, não dava para saber ao certo.
-Hum... e você suspeita de mim?
Não consegui responder, era muito difícil fazê-lo. Eu... eu suspeitava... mas eu não queria!
-Desculpe...
Eu não consegui encará-lo, eu estava envergonhado de mim mesmo. Eu gostava dele, eu o considerava um verdadeiro amigo e... apesar disso, não existia outra pessoa que conseguiria me atacar daquela forma... Ver a tristeza em seu olhar doeu muito.
-Ângelo... – sua voz era baixa, quase melancólica. - não sou eu quem está fazendo isso. Pode ser difícil de acreditar, mas não sou eu.
Ele não ia precisar dizer isso uma segunda vez. Eu ia acreditar nele, eu queria e eu ia!
-Eu... acredito em você.
Era verdade, as palavras dele de alguma forma me convenceram, eu nunca acreditei que fosse ele e era um alívio pensar assim.
-Caronte, você sabe quem é?
Ele balançou a cabeça, meio frustrado.
-Não... eu não consigo achar quem está fazendo isso, o rastro é fraco demais, o que é estranho, porque estão investindo duro contra você.
Sim, isso também não fazia sentido para mim e... espera, o que foi que ele disse?
-Espera, como você sabe disso?
Ele foi pego de surpresa.
-Eu... - seu rosto ficou vermelho - andei te vigiando.
Isso talvez explicasse algumas coisas.
-Você entrou em alguns sonhos meus?
Era notável o desconforto dele com o assunto, mas eu precisava de esclarecimentos...
-Sim...
Às vezes havia a presença de escuridão nos meus sonhos, a qual eu considerava ser a presença do atacante, mas isso mudava um pouco as coisas.
-Esse tempo todo você estava tentando me proteger?!
Ele concordou com a cabeça, sem me olhar nos olhos. Meu rosto ficou muito vermelho, como eu pude suspeitar de quem estava tentando me proteger o tempo todo?!
-Eu... nem sei o que dizer... desculpe-me Caronte, por suspeitar de você...
Um pequeno sorriso se formou em seu rosto, mas não foi o suficiente para apagar a tristeza que ali havia.
-Acho que já estou acostumado.
Eu sabia como ele se sentia, e eu não queria que ele se sentisse daquele jeito. Eu o abracei, ele retribuiu.
-Obrigado por me ajudar. - eu disse.
-É o mínimo que posso fazer por um amigo. E é bom saber que tenho algum.
O sinal soou, hora da minha visita à biblioteca.
-Vai lá Ângelo, prometo não contar a ninguém do livro.
Ele piscou para mim, eu fiquei boquiaberto.
-Caronte! O que mais você sabe?!
Fico feliz por ter alguém querendo minha segurança, mas até onde estava indo a invasão de privacidade?
-Hey, isso eu não descobri te vigiando, eu só fui à biblioteca e tinha um rastro de magia negra diferente atrás dos livros. Quando vou olhar, lá está um livro da seção reservada.
Olhei para os lados para ver se ninguém o tinha ouvido, por sorte não.
-Ok, ok, não conta para ninguém, não pude lê-lo ainda.
Ele abriu um sorriso.
-Tranquilo, até amanhã Ângelo... pelo menos eu espero.
Eu já estava estranhando a falta de pessimismo, a última frase me lembrou com quem eu estava de fato conversando. Seria cômico, se não fosse trágico.
-Até.
Esperei todos saírem para seguir o professor até a biblioteca. Assim como das outras duas vezes eu fiquei marcando os livros até as 18:50. Hoje eu estava mais apreensivo que nos outros dias, eu não sabia ainda qual era minha tarefa final, e ela era amanhã! De qualquer forma entrei na seção reservada pela terceira vez, e pela terceira vez fiz o encantamento na pedra. Porém hoje ela estava diferente, estava mais acinzentada, como se tivesse virado cinzas. E a cada segundo que se passava ela ficava mais cinza.
Prestei atenção aos olhos do professor, porém algo quase me desconcentrou. A pedra começou a brilhar mais intensamente e os laços branco e negro rodaram mais rapidamente, até que ambos se fundiram em um só, num laço prateado. Senti um puxão nas mãos, a magia negra emanava de mim para a pedra muito velozmente, o que me deixou tonto. O laço prata ficou rodopiando encima da pedra até se transformar numa réplica da lua. A réplica desceu até a pedra e a banhou com magia. A pedra em resposta brilhou ainda mais intensamente. O professor abriu os olhos. Soltamos a pedra e paramos o encantamento. Agora a pedra estava realmente coberta por fuligem, mas os espaços que não estavam tampados por cinzas brilhavam com uma luz prateada.
-Nossa... isso foi difícil, mas conseguimos. - ele disse entusiasmado.
Se ele dizia, eu não ia contrariá-lo.
-Professor, o que exatamente nós conseguimos?
Eu sabia que tínhamos feito algo, minha cabeça não podia estar rodando por nada.
-Ah Ângelo, isso é uma surpresa, prometo te contar amanhã, hoje você deve estar cansado, o ato final precisou de muita magia, não é mesmo?
Fiz que sim com a cabeça.
-Muito bem Ângelo, a tarefa de amanhã não será uma tarefa, será uma aula extra. Vamos fazê-la na sala depois do treino, você precisará dessa aula depois do que fizemos aqui.
Ah, tudo bem, eu nem estava curioso mesmo.
-Hum... ok. Neste caso, até amanhã.
Ele sorriu.
-Até.
Depois daquilo até andar foi cansativo, eu não sabia se ainda tinha magia negra dentro de mim. Não que eu ficaria triste se eu perdesse toda a magia negra, mas era desgastante quando ela se esgotava. Cheguei em casa acabado. Abri a porta e já fui direto para a cama.
-Boa noite pra você também zumbi. - disse o Glaucos.
A voz dele veio como um eco muito distante...
-Eu não vou jantar, preciso dormir.
Minha voz foi arrastada. Meus olhos já estavam fechados e meu corpo reclamava por qualquer movimento.
-Nossa, foi tão cansativo assim? - perguntou o Miro.
Como eu queria que tivesse sido só cansativo. Aquilo foi de matar!
-Foi muito, muito ruim...
Eu senti meus sentidos se desligando contra a minha vontade, quando uma mão me sacudiu um pouco.
-Ângelo, você não pode dormir com o quimono. - disse o Glaucos.
Meu primeiro pensamento foi queimar a droga do quimono, pelo menos seria rápido. Infelizmente eu ainda estava dentro dele, então não seria uma boa ideia. Contra toda a minha vontade, eu me levantei e comecei a tirar a roupa, lentamente. O Glaucos olhou para o Miro e disse:
-Quer um babador? Posso trazer algum aperitivo e suco também.
Apesar de ter ficado imensamente envergonhado, eu ri. Coloquei uma roupa meio velha e voltei a deitar.
-Perdão meninos, mas hoje não vou conseguir conversar.
Ouvi o Miro respondendo, mas meus olhos já estavam se fechando. Sua voz ficava mais baixa, até que não passou de um sussurro leve, que não demorou a desaparecer.
Foi uma noite sem sonhos.

Prefácio

Marcelo é um espadachim de fogo e seu sonho está muito próximo de se tornar realidade.
Ângelo é um mago de gelo com uma vida prestes a mudar.
Miro é um guerreiro de fogo com sérios problemas com seu rival.
Glaucos é um arqueiro de vento galanteador e de vida fácil.
Cada um deles tem um segredo, os quais estão prestes a serem revelados.

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