Bem, como prometido, postei os 11 capítulos reformulados, e para não dizerem que sou uma peste coloquei também o 12. Mas por aqui vão ficar só esses 12, o resto é só por e-mail mesmo. Ainda estou revisando os outros, então, tenham paciência, please ^^


E é isso.

Bjos me twittem

Sentei na minha cadeira no canto, quando o professor começou a dar as instruções.

-É uma exploração simples, vocês não têm um objetivo certo dessa vez, nas futuras explorações provavelmente terão. Vocês devem conhecer o terreno melhor. Existem alguns itens valiosos que podem ser encontrados com alguma sorte, mas todos eles precisam de inteligência para serem obtidos. Vocês não podem formar grupos, só depois do meio dia. Por fim, estejam preparados para ataques, há alguns monstros na floresta, não muito fortes, mas que ainda assim não devem ser subestimados. Preparados?

Todos fizeram que sim com a cabeça.

-Então, vamos.

Saímos junto das outras salas, eu queria falar com o Miro, ele devia estar muito mal, mas eu não o vi e também não poderia ficar junto dele na floresta. Andamos pela cidade até uma saída com um portão muito grande e bonito, metálico, com algumas plantas enroscadas nele. De relance eu vi o Glaucos e do outro lado o Caronte. Respirei fundo e entrei na floresta.

Era bonita, não era muito fechada e não parecia corrompida por espíritos ruins, era difícil acreditar que pudessem ter monstros por aqui. As árvores eram altas e suas folhas eram verde escuras, o vento conseguia soprar livremente e eu estava encantado com o lugar. Deixei a magia negra livre, agora que as outras pessoas não estavam muito próximas de mim e continuei andando. Enquanto caminhava eu vi um pequeno lago, não me aproximei muito por causa do aviso do professor, mas era lindo. Acho que caminhei durante uns 20 minutos quando achei uma caverna. Lembrei-me da minha caverna, que agora estava tão longe de mim. Talvez fosse bom estar dentro de uma caverna de novo. Entrei nela e quase que instantaneamente me senti estranho, como se não estivesse cansado, como se estivesse dormindo. Fiquei preocupado com isso, mas por alguma razão gostei daquilo. Olhei para trás e a saída continuava ali, então eu não precisava me preocupar. Continuei a andar. A caverna devia ter uns 3 metros de altura e era feita de rochas cinzentas comuns, sem nenhum ornamento. Talvez já tivessem vindo aqui e levado as pedras preciosas, caso tenha tido alguma. Caminhei até chegar numa gruta grande, mas vazia e sem saída. Era bom estar ali, me lembrava das coisas que deixei para trás.

-Nem tudo você deixou pra trás...

Eu me assustei muito quando ouvi aquela voz, era impossível. Virei-me e vi um espadachim, fantasmagórico, de cabelos vermelhos e uniforme Oriental branco.

-Marcello...

-Olá.

Agora eu tinha percebido uma pequena névoa branca em volta da sala, provavelmente alguém estava fazendo magia negra contra mim. Tentei achar algum rastro de magia negra, mas não havia nenhum, por outro lado a sala estava inundada em magia branca. Só que magia branca não consegue fabricar ilusões, então...

-Marcello, eu estou louco?

-Não. Eu estou realmente aqui.

Uma lágrima desceu pelo meu rosto.

-Você está morto.

-Sim.

-Perdoe-me...

-Ângelo, não foi culpa sua.

-É claro que foi!!! Eu não consegui te salvar, eu sou um fracasso como mago!

Eu sentei no chão.

-Ângelo... por favor, me escuta. Você não é um fracasso, aquilo que você tentou fazer é muito difícil, não é fácil lidar com a morte.

-Por que eu não consegui?

Ele ficou em silêncio por um momento.

-Ângelo, nós ficamos juntos por pouco tempo... não foi o suficiente para você conseguir me salvar, foi isso, não se culpe.

Fiquei quieto, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

-Ângelo.

-Diga...

-Eu vim aqui por um motivo.

Olhei para ele. Ele parecia um pouco cansado e triste.

-Pode falar Marcello.

-A única pessoa morta nesta caverna sou eu, você não pode ter medo de continuar sua vida, era a minha hora de partir, mas não é a sua.

-Por que você está dizendo isso?

-Porque você gosta do seu amigo e porque você está se prendendo, assim como fez comigo. Você precisa dar uma chance a si e a ele.

Aquelas palavras me cortaram, a verdade nunca doera tanto. Acredito que se tivesse uma forma de morrer de angústia, eu estaria morrendo agora.

-Não fique triste com isso Ângelo.

-Como eu poderia ficar feliz? Por favor, me diga como eu conseguiria ver felicidade, eu me sinto te traindo.

-Fico feliz que você tenha gostado tanto de mim, mas agora seu coração pertence à outra pessoa.

-Eu não queria ter me apaixonado de novo.

-Ninguém manda no coração.

Sequei as lágrimas do meu rosto.

-Ângelo, não posso ficar aqui mais tempo e não poderei voltar mais.

-Eu sinto sua falta.

-Nós ainda vamos nos ver, um dia. Continue sua vida e você me fará feliz.

-Eu... vou tentar.

-Você tem que conseguir, seja confiante.

-Eu não sou você, não tenho sua confiança.

-Mas eu confio em você. Se cuide.

-Te amo.

-Eu sei, sempre seremos amigos.

-Você ainda é convencido.

Ele riu e começou a desaparecer, eu o vi partindo pela segunda vez. A névoa branca começou a desaparecer junto.

Sentei e fiquei ali um tempo, tentando entender o que vira, eu realmente vira o Marcello, eu estava feliz por isso e estava mais aliviado, um pouco da culpa foi embora, mas como isso tinha acontecido? Como ele conseguiu vir para o mundo dos vivos? Eu podia pensar nisso outra hora, com a fome que eu estava provavelmente já era meio dia. Era hora de ir, me levantei e estava quase saindo da gruta quando vi um brilho no meio da gruta, no chão. Parecia ser uma pedra, transparente, parecia um... DIAMANTE!!!! Corri para pegá-lo, mas ele estava preso no chão e eu não conhecia magia de terra. Como eu poderia tirá-lo dali?

Eu não conhecia magia de fogo para derreter as pedras em volta também. Apesar de que... se eu conseguisse abaixar bastante a temperatura das pedras, elas ficariam mais duras e consequentemente mais frágeis, daí eu só precisaria de algo forte o suficiente para partir as rochas e a partir da rachadura eu poderia terminar de quebrar as pedras. Até que era uma boa idéia. Primeiro eu precisava deixar as pedras frágeis.

-Congelar.

Agora era só fazer alguma rachadura.

-Lança de Vento.

Não surtiu muito efeito, mas talvez precisasse de mais força.

-Lança de Vento, Lança de Vento, Lança de Vento.

As três lanças bateram nas pedras e fizeram rachaduras.

-Isso!!

As pedras começaram a fazer barulho, as rachaduras fizeram outras rachaduras e as pedras se quebraram, mas para meu azar, tinha um enorme buraco abaixo delas e eu estava encima de uma rocha que estava se partindo. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa eu estava caindo.

-Flutuar!

Eu estava flutuando, mas algumas rochas iam me acertar logo logo, eu precisava me defender.

-Parede de gelo!

Eu tinha lido sobre usar duas magias ao mesmo tempo e sabia o quão difícil era, mas eu tinha tentado com magias do mesmo tipo, com magias de tipos diferentes era ainda mais exaustivo. As pedras começaram a bater na parede que eu tinha feito acima de mim, porém o diamante estava caindo e ele não tinha batido na parede de gelo.

-Droga...

O único jeito era largar a parede e ir atrás do diamante e foi o que eu fiz, mas flutuar era muito lerdo, eu precisava de algo mais rápido. Lembrei de uma magia de levitação que dizia ser rápida, mas eu nunca testei, era uma boa hora. Saí debaixo da parede de gelo e gritei.

-Aladooo!!!

Duas asas de gelo nasceram nas minhas costas. Eu não acreditei que aquilo fosse me manter no ar, mas como eram mágicas, elas me mantiveram. Mergulhei. Eu precisava achar rápido o diamante, aquela magia era muito forte, me cansava muito. Vi um brilho tímido no ar, envolto de algumas pedras. Era minha chance, tentei ir mais rápido, me desviei das pedras, agarrei o diamante e comecei a subir rápido. Quando estava quase saindo daquele buraco a caverna começou a tremer. Ótimo, agora além de tudo ela ia desmoronar, o que mais faltava? Sai do buraco e continuei voando em direção à saída, me desviando das pedras que caíam do teto. Quando eu estava quase saindo uma pedra acertou minha asa direita e a quebrou. Tentei permanecer no ar, mas foi muito difícil. Consegui só o suficiente para sair da caverna, cai na grama, quebrando também a outra asa. A caverna desmoronou, até que só havia ruínas.

Eu estava ofegante, eu tinha usado várias magias ao mesmo tempo e agora eu estava admirando o diamante na minha mão. Se eu não estivesse tão cansado eu poderia ter saído pulando de felicidade. Coloquei o diamante no meu bolso, prendi a magia negra e tentei voltar para a cidade. Não demorou muito para eu ouvir vozes conhecidas, como a do meu professor.

-Olá Ângelo, como está indo a exploração? E... por que você parece tão cansado?

-Professor... deixa eu respirar um pouco...

-Tudo bem.

Nós nos sentamos.

-Eu achei uma caverna.

-Não Ângelo, você não achou, não tem caverna nessa floresta.

-É claro que tem! Eu quase morri nela!

-Como assim?

-Ela desmoronou.

-Conte-me a história toda.

-Eu estava andando, daí achei uma caverna.

-Sim, continue.

-Daí eu entrei nela e...

Eu não se queria contar sobre o Marcello, provavelmente ele acharia que eu estava louco. Mas como eu também achava então não fazia diferença.

-E eu vi o fantasma de uma pessoa.

-Hum...

-E eu conversei com o fantasma.

Ele me olhou com um olhar de interesse, talvez ele achasse que eu estava mentindo.

-Não é mentira, eu tenho como provar, eu achei esse diamante lá dentro.

Peguei o diamante do meu bolso e mostrei a ele. Realmente um diamante era algo raro, mas pela cara que ele fez parecia ser mais raro do que eu imaginava.

-Ângelo, isso não é um diamante...

Não acredito...

-Você está me dizendo que eu quase me matei para pegar isso por nada?

-Não, não, você não está entendendo... eu acredito que você tenha achado uma caverna, mas volto a dizer, não tem nenhuma caverna nesta floresta.

-Não entendi.

-Essa caverna que você achou foi fruto dessa pedra. É uma pedra do sonho.

Eu já tinha lido algumas vezes sobre essa pedra, era uma pedra que tinha poderes mentais mais poderosos, mas até onde eu sabia ela era uma lenda.

-Professor, não pode ser...

-Eu também não acreditaria, mas é a única explicação e definitivamente isso não é um diamante.

Ele mostrou o orbe dele, era de um metal prateado, mas não era prata, era mais bonito e no meio tinha uma pedra transparente, mas com menos brilho que a minha.

-Viu? Isso é um diamante, a sua não é tão poderosa quanto um diamante com magias de gelo ou vento, por exemplo, mas com magias da mente essa sua pedra pode fazer enormes feitos.

-Ela é tão forte quanto uma esmeralda com as magias que não são mentais?

-Provavelmente sim.

-Perfeito!!! Eu posso fazer um orbe com ela!

-Seria um orbe realmente fantástico, se você o fizer com o metal certo.

Ok, isso era um problema, eu não tinha dinheiro para comprar um metal bom o suficiente para a pedra e eu não ia tropeçar em um no meio da floresta, eu acho...

-Ah, droga... talvez demore um pouco para eu conseguir um bom metal.

Ele me avaliou por um momento e disse:

-Como seu professor, eu sinto a necessidade de ajudá-lo. Eu tenho o metal perfeito para você, mas vou cobrar por isso.

-Desculpe-me professor, mas eu não tenho dinheiro para isso.

-Não me recordo de ter citado dinheiro, quero que você me faça alguns favores em troca.

-Eu faço, faço o que você quiser.

Minha felicidade estava voltando à tona e ele notou isso.

-Ótimo, depois conversamos sobre suas tarefas. Vou levar a pedra e o metal para um ferreiro, te entrego assim que ela ficar pronta.

-Obrigado professor, de verdade.

Eu o abracei, meio de lado e dei a pedra a ele.

-Não me agradeça, você terá muito trabalho jovenzinho.

Eu ri.

-É justo.

Mas uma coisa estava me incomodando, se a pedra fabricou a caverna e a caverna era um sonho...

-Professor, o fantasma também foi criado pela pedra?

-Não, a pedra não tem tanto poder. Ele se aproveitou do lugar que a pedra criou para conseguir te ver. É mais fácil um fantasma ir para um sonho do que para o nosso mundo.

-Ah...

-Ângelo, você precisa se alimentar, vá encontrar a Aglaope, ela está logo ali, depois daquele grupo de guerreiros. Ela vai te mostrar onde você vai almoçar.

-Tudo bem, obrigado por tudo professor.

-De nada e... tente guardar segredo sobre isso meu jovem.

-Segredo absoluto?

-De preferência.

-Só vou contar para três pessoas.

-De confiança?

-Sim.

-Tudo bem, vai almoçar.

-Até mais tarde.

Era estranho morar com pessoas da sua idade, elas eram mais alegres e falavam mais, eu me sentia um velho perto deles, mas era uma sensação até que boa. Conversamos e rimos muito durante o café da manhã. O Glaucos levantou meu quimono para ver minhas costas e disse que estava bem melhor. Eu teria me sentido assediado, se não fosse o Glaucos.

Enquanto caminhávamos para a academia eu ouvi uma voz conhecida dizendo Oi para mim de longe. Quando me virei vi o Sileno. Fiquei feliz em vê-lo, mas acho que o Miro nem tanto, o que deveria ser loucura da minha parte, afinal, eles nem se conheciam.

-Oi Sileno.

-Ontem não te vi por lá rapaz, oi pra vocês dois.

-Ah sim, esses são Glaucos e Miro.

-Eu me lembro do guerreiro.

A cara do Miro realmente não foi das melhores, o que será que deu nele? Ele estava contente até agora...

-Ângelo, foi você que arrumou confusão ontem na saída? Eu ouvi uns boatos dos meus colegas.

-É... foi.

-Nossa, eu não achava que você era cabeça quente.

-E eu não sou.

-Imagine se fosse né?

Ele riu, eu vi as mãos do Miro se fechando em dois punhos. Eu tinha que fazê-lo ficar calmo.

-Miro, eu nem imagino por que você está tão nervoso, mas acalme-se!

Pareceu surtir efeito, ele respirou e relaxou um pouco.

-Ah, foram probleminhas, nada demais Sileno.

-Entendo.

O Glaucos começou a conversar com o Miro enquanto eu continuava minha conversa com o Sileno. A despedida dessa vez foi ainda mais interessante, cada um foi para um bloco, foi engraçado.

A aula da manhã foi sobre o uso de duas magias diferentes ao mesmo tempo. O professor explicou como se fazia e deu referências bibliográficas, além de ter pedido um relatório para a próxima segunda sobre o que foi aprendido nesta aula junto com uma demonstração, também na segunda. Isso ia dar trabalho. O sinal tocou e eu fui para o almoço, novamente o Caronte disse que ia para a biblioteca, o que não foi muito bom, por aumentar minhas suspeitas, mas eu achei melhor não dizer nada sobre isso.

-Olá.

Tomei um susto. Era uma maga branca da minha sala, ela era muito bonita, tinha os cabelos brancos arrumados numa longa trança e sua pele parecia perolada.

-Olá.

-Seu nome é Ângelo, né?

-Sim, e o seu?

-Higéia. Você está gostando daqui?

-É diferente, mas acho que estou me acostumando.

-Legal... por curiosidade, você é amigo daquele arqueiro de vento?

-O Glaucos?

-É...

Que interessante, eu sabia que o Glaucos era lindo, mas não sabia que ele fazia tanto sucesso.

-Sim, sou.

-Será que você poderia...

-Te apresentar a ele?

-É...

O rosto dela ficou vermelho.

-Acho que posso fazer isso sim.

Ela sorriu e me beijou no rosto.

-Obrigada, você é um amor.

-Disponha.

Entramos no refeitório e logo vi o Glaucos acenando para mim, de longe, ao lado dele estava o Miro. Eu precisava falar com o Miro a sós, mas como fazer isso? A resposta veio quando eu vi o rosto da garota ficar ainda mais vermelho quando ela viu o Glaucos.

-Bem, vamos lá?

-Uhum...

Era engraçado ver alguém envergonhado, normalmente este era o meu papel. Caminhamos até a mesa onde eles estavam sentados e a cada passo a menina parecia que ficava mais vermelha.

-Olá, bem, preciso apresentar a vocês, minha amiga, Higéia.

-Olá Higéia. - disse o Glaucos.

-Oi. - disse a maga, muito acanhada.

-Miro, você vem pegar comida comigo enquanto o Glaucos faz companhia para a Higéia?

O olhar do Glaucos foi do tipo “Nossa Ângelo, como você é sutil”, mas eu nem liguei. Puxei o Miro da cadeira e deixei os dois lá. Quando já tínhamos nos afastado um pouco o Miro disse:

-Quem é ela?

-Uma menina que quer ficar com o Glaucos, mas isso não importa muito, eu queria ficar sozinho com você, o que está acontecendo?

Ele não esperava por isso.

-Sobre o que você está falando?

Eu fiquei olhando para os tipos de comida, então notei que o outro mago de gelo estava perto de mim e comecei a colocar no prato só o que ele pegava.

-Miro, por que você estava tão nervoso hoje de manhã?

-Ah, isso, aquele cara tava te zuando!

-Era só brincadeira.

-Mesmo assim.

Ficamos quietos por um momento.

-Você tem certeza que é só por isso?

-Talvez não.

-Então...?

Havíamos acabado de pegar a comida e precisávamos ir para a mesa, na qual o Glaucos parecia estar jogando seu charme para a menina.

-Miro, acho melhor pegarmos outra mesa.

-Se fizermos isso vai ficar muito na cara que você quer deixá-los a sós, mais do que você já deixou. Podemos terminar essa conversa outra hora?

Ele não me encara enquanto dizia isso.

-Podemos sim...

-Você não vai ficar chateado?

Eu não respondi, fui em direção à mesa. De relance vi o Crisaor, à minha direita, sentado numa mesa, nos encaramos por um momento, mas foi só isso.

Posso dizer que a escolha do prato alheio foi um sucesso, a comida que o outro mago escolheu era ótima. Além disso, a Higéia parecia bem feliz em ter seu momento com o Glaucos, mesmo que com eu e o Miro juntos. Enquanto eu comia fiquei ouvindo eles conversarem, o que foi interessante. Descobri que o Glaucos vinha de uma família relativamente rica, o que explicava aquela lembrança ruim dele, e que ele era o melhor da turma na outra academia, algo que ele se orgulhava bastante. Fiquei me perguntando se eles não iam comer, mas pelo que parecia eles estavam mais interessados um no outro. Quando o sinal tocou os dois lamentaram, mas o Glaucos prometeu vê-la no dia seguinte. Nós nos despedimos e eu voltei para a sala com a Higéia, a qual estava suspirando. Não quis tirar ela do mundo de sonhos dela, então fiquei em silêncio.

Mais uma tarde de treinamento na arena, e novamente eu treinei com o Caronte, eu estava ficando cada vez menos cansado ao usar as magia negra e isso era muito bom, apesar de ainda assim eu estar bastante cansado quando o sinal soou. Despedi-me do Caronte com um abraço, o qual ele recebeu surpreso, mas muito feliz.

A cena seguinte me pareceu um dejá-vù. Novamente eu estava sentado, olhando a cidade sob a luz fraca do sol se pondo, porém dessa vez sem confusões. Não tardou para que o Glaucos chegasse, seguido pelo Miro. Fomos para casa conversando sobre o que poderíamos fazer no final de semana. Eu os alertei que no sábado ia ver minha mãe e no domingo ia fazer a pesquisa, não sobrando muito tempo livre. Eles iam passar o final de semana em suas casas, que ficava em outra cidade, não muito longe dali.

Ao chegarmos em casa pedimos a janta e cada um foi fazer uma coisa. O Miro foi polir sua montante, enquanto o Glaucos estava escrevendo num caderno, o que eu achei que fosse um diário ou algo do tipo, e eu fiquei do lado de fora, sentindo o vento. Não demorou para a comida chegar. Após a janta eu me troquei com magia, o Glauco e o Miro se trocaram normalmente. Ficamos em nossas camas, conversando e eu já até conseguia olhar para o Miro sem ficar muito envergonhado. Eu dormi enquanto o Miro falava sobre um “passeio” que haveria semana que vem. Hoje meu sonho foi com o Marcello, ele estava com o uniforme do Oriente, porém branco, ele me olhava de forma triste, como se quisesse dizer alguma coisa, mas quando ele fez menção de falar, eu acordei.

Os dias seguintes foram parecidos. Na academia estávamos ficando nivelados em conhecimento, meus desentendimentos com o Crisaor não continuaram, talvez ele tivesse ficado com medo após ter visto a morte tão perto. A voz na minha mente não voltou e eu estava prestando uma atenção extra ao Caronte, apesar de odiar fazer isso. Minhas perícias com a comida de lá estavam melhores, eu já entendia o que me fazia mal e o que era gostoso. A cada dia que se passava minha amizade com meus colegas de quarto se fortalecia, de forma mais forte com o Miro, apesar de não termos conseguido terminar aquela conversa. Ele gostava de me provocar, o que me lembrava o aviso do Glaucos a dias atrás, o qual eu esperava fielmente que estivesse errado. Não que eu não gostasse do Miro, eu gostava, mas esse era o problema, eu não tinha o direito de gostar de ninguém, ainda mais quando eu perdi meu primeiro amor daquele jeito e o fato de eu ainda vê-lo em sonhos não ajudava muito. Na sexta eu me lembrei de levar a roupa suja para a lavanderia e pegá-las no sábado pela manhã. O Miro e o Glaucos foram para suas casas após eu prometer pela décima segunda vez que ficaria bem sozinho. De tarde eu vi minha mãe, contei tudo que aconteceu para ela, fui repreendido por entrar numa briga, mas ela ficou feliz por eu estar me acostumando. Ela disse que estava vendo um emprego como professora na academia de lá. Ela também contou sobre um mago que ela conhecera e que pelo que parecia eles iam sair juntos amanhã. Talvez eu não tenha contado, mas meu pai morreu numa guerra contra a Penumbra. Meu domingo foi dedicado aos estudos. Fiquei o dia inteiro fazendo o relatório na biblioteca, quando cheguei em casa o Miro e o Glaucos já tinham voltado. Ambos me receberam com um abraço. Seguimos a rotina de pedir a janta, jantar e ficar conversando até cair no sono. Pela primeira vez desde que eu chegara aqui, tive uma noite sem sonhos.

Quando eu acordei já havia outra pessoa acordada no quarto, o Miro, o qual estava na minha cama, sentado, olhando para o outro lado.

-Não quis te acordar.

Ele falava baixo para não acordar o Glaucos, segui seu exemplo.

-Não tem problema.

Por algum motivo ele não olhava para mim, e seu rosto não estava muito feliz.

-Ângelo...

-Sim?

-Acho que temos uma conversa para terminar.

-Sim, temos.

-Eu pensei muito sobre aquilo e... desde que você chegou, eu me sinto diferente.

Ah não...

-Em que sentido?

Pela primeira vez ele me olhou e eu, infelizmente, reconheci o olhar. Era o de sentimento reprimido, ele escondia algo.

-Eu fico mais calmo quando estou perto de você e...

Minhas mãos estavam para fora dos lençóis, ele notou isso e segurou uma delas. Na hora eu entendi a sensação que ele emanara quando me defendeu do Crisaor, não era amizade... era amor.

-Miro, eu... - eu soltei minha mão da dele - eu não posso...

-Por quê?

Seu rosto expressava tristeza e um pouco de dor, eu me sentia muito mal por isso.

-É complicado explicar...

-Talvez eu entenda, eu só quero saber isso, depois não vou te atormentar de novo.

Se ele continuasse a me encarar eu ia começar a chorar, então comecei a contar.

-Você já se perguntou por que eu viria pra um lugar totalmente estranho, o qual era quase que visto como inimigo, deixando minha mãe e amigos para trás?

-Sim.

-E o que você pensou?

-Eu não entendi porque você fez isso.

-Eu fiz isso, Miro, porque eu estava indignado com várias coisas de lá. Aquela nação matou a única pessoa que eu já gostei, de verdade, em toda a minha vida.

Seu rosto ficou sombreado pela dor.

-Eu tentei salvá-lo, me disseram que era possível, mas eu não consegui... eu falhei. A minha única vontade era acabar com aquele sistema nojento que havia matado a primeira pessoa que viera falar comigo, a primeira pessoa que me fez sentir o que é ter um amigo e a primeira pessoa que me mostrou o que era gostar de alguém.

Agora definitivamente ele estava muito mal, ele não me encarava e sua cabeça estava abaixada, mas eu pude ver uma lágrima no rosto dele.

-Eu não posso gostar de outra pessoa... eu não vou fazer outra pessoa sofrer de novo... e também não consigo suportar a dor de mais uma perda...

-Entendo...

Eu o abracei, ele me abraçou de volta, não com o calor que eu esperava, mas abraçou. Eu não sabia o que era pior, se pensar em como ele estava ou relembrar aquilo. Ele se soltou e secou a lágrima do seu rosto, depois se levantou e foi para o banheiro. O barulho da porta se fechando fez o Glaucos acordar, ele se virou e se surpreendeu em ver um Ângelo sentado na cama com uma lágrima descendo pelo rosto.

-Ângelo, o que...?

-Você estava certo Glaucos...

Ele olhou para a cama do Miro e entendeu.

-Eu sinto muito...

O clima depois daquilo não podia estar pior, era como se alguém tivesse morrido... e eu sei como é essa sensação. Hoje teria uma exploração por uma floresta próxima, para nos acostumarmos a caçar itens valiosos para o próprio sustento e eu estava bastante empolgado para isso, pelo menos até acordar.

Assim como todos os dias tomamos café, nos arrumamos e fomos para a academia, a diferença é que hoje o caminho foi silencioso. Assim que entramos na academia eu me despedi deles e fui para a minha sala, com um peso extra na consciência.

Eu fui um dos últimos a entrar na sala. Mal pude sentar quando o professor pediu para que nós o seguíssemos, o Caronte veio logo atrás de mim.

-Oi de novo.

Suas palavras saíam com mais confiança dessa vez e eu não me lembro de tê-lo visto no almoço.

-Olá, você sabe para onde estamos indo?

-Provavelmente para treinar.

-Ah...

Devo admitir que fiquei receoso, se eles treinassem algo que eu não soubesse seria algo bem ruim.

-Medo do que?

-Só receio, você é melhor com magia negra do que eu, não sei ver sentimentos com tanta facilidade.

-Você usa dois elementos, eu só uso um.

-É, faz sentido.

O professor abriu uma grande porta dupla de aspecto antigo e precioso a qual dava para uma grande arena, ainda maior do que a da academia que eu tinha aula. Eu estava tão maravilhado com aquilo que me assustei quando ele começou a falar.

-Hoje vamos fazer o básico, só quero ver como vocês se saem. Durante o resto da tarde quero que usem suas técnicas, pode ser como demonstração ou façam duplas para duelos. Se forem duelar, peguem leve com o adversário. Se espalhem pela arena.

Deixei o centro para quem gosta dele e fiquei num canto, do outro lado da arena. Uma coisa engraçada aconteceu, os magos de fogo e relâmpago costumavam ficar no centro, enquanto os de gelo, água e trevas ficavam no canto, os outros se distribuíam.

Achei que fosse melhor eu fazer demonstrações sozinho, apesar de o Caronte estar do meu lado. Fiz o mesmo que na praça, se deu certo aquele dia, poderia dar certo hoje. As pessoas olharam para mim admiradas, até mesmo o mago de gelo, fiquei mais envergonhado do que naquela vez. Tudo era mais fácil quando a magia negra estava livre, eu não me cansava tanto e a magia fluía melhor. Ao meu lado o Caronte havia evocado um demônio com asas de aspecto mal, mas muito engraçado. Ele rodopiava, fazia malabares com bolas de fogo e se fazia de cachorro quando o Caronte pedia. Depois disso ele começou a fazer um tiro ao alvo numa parede usando lanças negras, me juntei a ele. Estávamos usando bastante magia negra, por isso as pessoas se afastaram um pouco, exceto o professor, que se juntou a nós e lançou algumas rajadas de pedra.

-Ângelo, aquilo que você fez com o gelo foi muito belo, acho que ninguém mostra isso aos alunos por aqui.

-Ah, não me ensinaram também, eu aprendi sozinho.

-Interessante, teve mais alguma coisa que você aprendeu sozinho?

Eu havia lido livros de magia negra que ensinavam coisas que nunca havia tentado, como o domínio da mente, conjurar uma maldição, controlar sentimentos ou romper laços. Todas essas magias eram muito avançadas e perigosas, portanto nunca tentei usar nenhuma, apesar de eu saber como fazê-las.

-Hum, não, foram só as de gelo mesmo.

-Entendo...

Seu olhar era o mesmo que o Miro fazia quando eu mentia, como essa gente sabia quando eu mentia?

-Ok, eu aprendi algumas magias negras, mas nunca tentei usá-las.

-Se quiser podemos tentar agora.

Seu olhar era sério, mas de certa forma, paterno, eu não acreditava que ele estava pedindo isso.

-Hum... não todas...

-Ah, com certeza não, não queremos matar ninguém, não é mesmo?

-Eu não aprendi magias de morte.

Só depois notei que ele não estava olhando para mim naquele momento, mas sim para o Caronte, ou talvez tenha sido impressão minha.

-Então, o que você quer treinar? Não demore, tenho que consultar a todos ainda hoje.

Agora eu tinha certeza que ele estava olhando para mim.

-Controle dos sentimentos.

-Pelo que vejo você leu coisas um tanto quanto avançadas.

-Essa é a mais branda delas...

-Muito bem, sabe como fazer?

-Sim, mas em quem?

-Faça em mim, eu vou permitir.

-Hum... tudo bem...

Concentrei-me na aura dele, pelo que me parecia ele estava com um misto de curiosidade com nervosismo e ansiedade, seria melhor se ele estivesse feliz, sussurrei:

-Felicidade.

Minhas palavras desencadearam uma névoa invisível que tocou a aura dele e foi modificando-a aos poucos. Depois de alguns segundos ele estava bastante feliz.

-Muito bom, obrigado.

Meu corpo ficou um pouco pesado e eu me cansei bastante.

-Nossa... mas eu só mudei o seu humor...

-Este tipo de magia consome muito de você, apesar de parecer inocente, a mudança de um sentimento pode ser fatal. Eu te curaria, mas magia branca só vai te fazer ficar pior.

-Tudo bem, não vou tentar fazer isso com frequência.

-Você precisa melhorar muito, teria sido muito fácil te impedir de terminar a magia.

-Eu imagino...

-Mas não desista, provavelmente o seu colega pode te ajudar.

Caronte olhou para ele e depois para mim.

-Sim, eu posso Ângelo, podemos treinar juntos, se você quiser.

-E acho que o Ângelo pode te ajudar com magia de vento, gelo e... levitação? Era isso que você havia me dito não é?

-Sim, exatamente, posso sim.

-Ótimo, então por enquanto quero que façam isso, pelo menos até a sala estar mais bem nivelada, depois aprendemos coisas novas. Vou ver como os outros estão se saindo.

-Tudo bem.

Durante, acho que, duas horas ele me ensinou como usar a magia negra sem se desgastar tanto, tudo dependia de como você se concentrava no que fazia. Além disso, ele me ensinou a aprimorar a magia do controle dos sentimentos para que o alvo não notasse. No fim das contas consegui deixar metade das pessoas da arena contentes. O professor adivinhou quem havia feito aquilo e sorriu para mim. As duas horas restantes eu o ajudei com magias de levitação simples, mas que ele tinha bastante dificuldade. Para a minha sorte ele não caiu, muito, enquanto tentava flutuar. Quando ele ficava nervoso por não conseguir eu o acalmava, era uma cena engraçada.

Apesar de ser divertido era muito cansativo e eu fiquei feliz quando o sinal soou pela última vez no dia. Despedi-me do Caronte e do professor, guardei a magia negra pra si e fui para a entrada. Sentei no canto da escada e olhei para a cidade. Era linda sob a luz laranja do sol de fim de tarde. Uma pena que foi encoberta por mais de 2 metros de mau humor em forma de gente, também conhecido como Crisaor.

-Se você não se importa, eu estava olhando a cidade.

-É bom que tenha visto bem mago, você não a verá de novo nem tão cedo.

-Você está muito estressado, não seria melhor se você relaxasse? Vamos, Relaxe.

Liberei um pouco da magia negra e uma névoa invisível agarrou a raiva que o circundava, foi difícil, mas depois de um tempo ele cedeu e ficou calmo.

-Se sente melhor?

Um pavor subiu pela espinha dele.

-Eu não fiz nada, - sorri maliciosamente - mas fico feliz que você não esteja mais nervoso. Agora você poderia fazer a gentileza de sair da minha frente? Ainda quero ver a cidade até que meus amigos cheguem.

Ele ficou meio confuso, mas saiu.

-Porque você não deixa o Miro em paz?

Minha voz foi séria e o humor dele começou a passar para um orgulho desenfreado.

-Eu só brinco com ele, ele é um fraco.

Aquilo era muito estúpido e me deixou bastante nervoso.

-Uma coisa você vai aprender um dia: nunca se deve subjugar uma pessoa, um dia você se arrependerá do que faz a ele.

-Por quê? Quem vai me ensinar a lição? Você?

-Não perderia meu tempo com isso, tenho mais o que fazer.

A raiva que eu havia tirado dele voltou à tona e dessa vez eu a deixaria lá.

-Você é muito atrevido mago.

-Talvez eu seja mesmo, mas sou um atrevido que pode fazer você chorar, e isso é algo que você não pode ignorar.

-Posso quebrar suas costelas com apenas uma mão.

-Isso se fosse tivesse coragem e conseguisse chegar perto o suficiente.

-Vocês magos são covardes.

-Você, guerreiro, é um ignorante, por desprezar o efeito que seu adversário pode fazer em você, ou talvez eu deva te colocar numa gaiola pequena dessa vez, o que acha?

Ele teve medo, provavelmente se lembrou das paredes indo contra ele.

-É tudo ilusão, não é real.

-E ainda assim você teme.

Vi o Miro e o Ângelo saindo, era hora de ir.

-Bem, gostaria de dizer que foi um prazer conhecê-lo.

-Um dia eu vou pegar você e...

-Por que não faz isso agora?!

As pessoas olharam para nossa direção, inclusive meus colegas de quarto.

-Um dia, quando você estiver sozinho.

-Eu não tenho medo de ficar sozinho, você pode dizer o mesmo?

Fui em direção ao Miro, enfurecido. Ele me olhava como se eu estivesse prestes a ser morto e pela forma como ele começou a correr em meu encontro, eu acreditei com mais fidelidade nisso. Virei e vi uma espada enorme vindo em minha direção, só tive tempo de pensar em uma coisa: pará-lo. É uma pena que ele estava a um segundo de me cortar com uma espada gigantesca. Dei uma cambalhota para o lado, um pouco antes de a espada ser cravada no chão, não que eu tenha saído ileso, ele ainda conseguiu me arranhar no braço. Antes que eu conseguisse me levantar ele forçou as costas da espada contra mim, o que me jogou na parede mais próxima. Uma sombra pairou na minha frente e eu esperava um golpe de misericórdia. Para minha surpresa quando levantei a cabeça vi um guerreiro, mas não era exatamente quem eu esperava, era o Miro, com sua aura flamejante ardendo como eu jamais vira antes, me defendendo. O estranho era que ele não estava lutando com ódio, era um sentimento diferente, mais forte, mais poderoso, ele estava lutando por... amizade... eu acho. Ninguém na arena emanava este sentimento, então eu não podia distinguir bem qual era, mas era o que lhe dava força, força o suficiente para não só duelar ao mesmo nível com o Crisaor como para arrancar a espada da mão dele e jogá-lo no chão com um golpe direto no peito.

Logo depois disso ele veio correndo em minha direção, eu estava pasmo com o quão bom ele era.

-Ângelo, você tá machucado?

-Hum, não muito.

Ele me atacou pelas costas. Levantei-me, o corte ardeu um pouco, mas nada comparado à raiva. O covarde tinha me atacado pelas costas!

Um sorriso brotou no rosto dele quando ele me viu.

-Te machuquei? Desculpa maguinho.

Ele começou a rir alto, mas não por muito tempo. A magia negra se libertou com toda a fúria.

-Você me atacou pelas costas.

-Ele te atacou pelas costas!!!!!

-Você vai pagar por isso!

-Faça o que precisa fazer, acabe com a vida dele!

-Lança negra!

Uma memória veio à minha mente, aquela lança não ia atravessar um guerreiro, mas sim um espadachim, de cabelos vermelhos com um sorriso no rosto, era essa a magia que havia matado o Marcello!!!

-Não, pára!

Desviei a lança para o chão. Suor escorreu pelo meu rosto e eu estava assustado. Eu ia matar uma pessoa. Eu não era o único que estava assustado, vários estavam. Eu já tinha visto muitas brigas, mas não uma que quase resultasse numa morte, no máximo cortes feios ou queimaduras. O Glaucos e o Miro vieram até mim, o Glaucos colocou as mãos nos meus ombros e me fez caminhar. Estávamos indo para casa.

Ao chegar em casa eu sentei na minha cama. Eu estava confuso, magoado comigo mesmo. Glaucos e Miro sentaram na cama do Glaucos e ficaram de frente para mim.

-Acho que lhes devo uma explicação...

Eles se entreolharam, mas quem respondeu foi o Miro:

-Se você estiver à vontade pra isso, seria o melhor Ângelo. Sinceramente, não sabemos o que fazer.

Aquilo foi como um soco no estômago.

-Eu... eu vou tentar explicar.

Eu estava cabisbaixo, não conseguia encará-los, me sentia uma criança burra que não conseguia nem mesmo amarrar os cadarços.

-Essas coisas que estão acontecendo, nunca me aconteceram antes. Talvez elas tenham começado porque eu usei magia negra perto de outras pessoas, inclusive usei nelas, mas ainda assim não é natural. Eu... estou ouvindo uma voz na minha mente, que não é minha. Tem alguém usando magia negra contra mim.

Eu notei o Glaucos empalidecer um pouco com essa notícia.

-E não é só isso, essa pessoa também está tentando controlar meus sentimentos para fazer coisas ruins. O problema é que eu só conheço um usuário de magia negra e...

Eu não queria continuar, não queria acreditar que o Caronte estivesse fazendo isso, mas era o único que poderia. Eu simplesmente não ia culpá-lo, ele parecia ser tão legal. Talvez eles tivessem entendido meu silêncio.

-Ângelo, - a voz do Miro estava baixa, algo incomum - talvez você precise de ajuda.

-Não... eu não quero. Eu... eu vou me controlar, o começo é sempre mais difícil, isso não vai acontecer de novo.

O Miro suspirou e disse:

-Então tá, confio em você.

Aparentemente o Glaucos não tinha a mesma confiança, mas não disse nada para se opor.

-Desculpem-me, por tudo.

Andei até a janela, senti o vento soprando, ele tentava me animar, mas hoje ele não conseguiria. Lembrei que eu ainda estava com o uniforme, comecei a tirá-lo. Meus ferimentos eram leves e ardiam um pouco, o uniforme estava um pouco sujo de sangue e isso despertou a atenção do Glaucos.

-Ângelo! Porque você não disse que estava ferido??!!!

-Eu tinha outras coisas para pensar.

O Miro veio logo atrás dele. O Glaucos segurou meu braço, o qual tinha um fino corte. E depois olhou para as minhas costas. Quando ele tocou nelas eu senti uma dor muito forte, não consegui suportar. Gritei de dor.

-Ângelo, isso tá roxo!

-Você precisava ter apertado??!!!

-Vamos precisar de uma compressa gelada e...

Ele me olhou com uma cara muito sínica.

-Eu acho que talvez não precisemos de uma compressa gelada. - eu disse, rindo.

Concentrei-me um pouco e fiz meu corpo ficar um pouco mais frio do que ele costumava ser, o Glaucos me soltou.

-Eu me recupero rápido, não se preocupem, pelo menos isso eu faço direito.

E como eu não gostava muito de ficar sem algumas partes da roupa, tratei de terminar de tirar o uniforme e colocar outra roupa, novamente sob um olhar... diferente, do Miro. Escolhi uma camisa roxa e uma calça preta. Pude sentir os ferimentos se abrandando, mas ainda doíam um pouco, nada comparado ao que aconteceria se aquela lança atingisse o Crisaor, mas...

Eles pediram algo para comer e após o jantar nós nos deitamos e ficamos conversando. Eu ainda não tinha me acostumado a ver a forma como o Miro ia dormir, mas eu não podia pensar nisso também. Lembrei que ainda haviam coisas da minha mala para serem arrumadas, levantei e comecei a fazer isso. Assim que acabei meu armário estava tão bonito, tão organizado. Deitei de novo e olhei para o Miro, meus olhos começaram a se fechar, mas por um momento eu vi aquele sentimento diferente emanando dele, era bom ver que alguém queria ser meu amigo neste lugar. Adormeci.

Sonhei novamente com fogo, mas dessa vez só tinha uma chama, e ela estava coberta por escuridão. De dentro da escuridão uma voz disse:

-Confie em seu coração, por favor, não tire conclusões precipitadas.

Quando acordei o sol começava a brilhar, eu queria entender os sonhos que eu estava tendo. Fiquei sentado na cama pensando sobre isso, mas por mais que eu tentasse não conseguia ver a lógica naquilo. Desisti e fui me arrumar para ir para a academia.

Prefácio

Marcelo é um espadachim de fogo e seu sonho está muito próximo de se tornar realidade.
Ângelo é um mago de gelo com uma vida prestes a mudar.
Miro é um guerreiro de fogo com sérios problemas com seu rival.
Glaucos é um arqueiro de vento galanteador e de vida fácil.
Cada um deles tem um segredo, os quais estão prestes a serem revelados.

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