Quando acordei sabia exatamente o que fazer, levantei e fui ao banheiro, tomei banho, escovei os dentes, me troquei e fui tomar café da manhã.
-Bom dia meu querido.
-Muito bom dia.
-Você está bastante animadinho, algo especial hoje?
-Não... nada.
Falei isso segurando a risada, sempre fui um péssimo mentiroso.
-Ok, divirta-se fazendo nada hoje.
-Brigado mãe, te amo.
Terminei o café e fui à casa de armaduras, pra verificar o estado do meu traje. Os arqueiros e espadachins usavam trajes, que eram resistentes e não eram muito pesados, enquanto que os guerreiros usavam grandes armaduras e os magos usavam quimonos, que eram levíssimos. Todos os equipamentos eram feitos a partir de matérias-primas obtidas de monstros, em calabouços ou até mesmo em jazidas.
-Bom dia Sr. Armando.
-Bom dia Marcello, veio dar uma olhada no traje?
-Sim senhor.
-Muito bem, vamos lá para dentro.
Ele ficou fazendo os testes de sempre e disse que estava tudo bem, que só precisaria concertar o furo que havia na perna, algo que ele não demorou nem 5 minutos para arrumar.
-Muito obrigado.
Paguei o preço pelo reparo.
-De nada meu filho, volte sempre.
Agora era só ver as espadas e eu estava livre pra ir à casa do Ângelo. Não demorou muito pra eu chegar à casa de armas, e novamente os testes, porém não havia nenhum erro com as armas também, o que era uma sorte. Hora de ir pra casa do Ângelo.
Segui o endereço que ele havia me passado até chegar a uma casa cinza, um pouco velha, mas que tinha muitas plantas. Atravessei o jardim e bati na porta, uma mulher muito bonita me atendeu, tinha olhos e cabelos verdes claros, era adepta ao vento, e pela sua altura devia ser uma arqueira.
-Olá, posso ajudá-lo?
-Sim, posso falar com o Ângelo?
Ela me olhou de um jeito esquisito, mas com alguma ternura no olhar.
-Claro, já vou chamá-lo, qual é seu nome?
-Marcello.
-Tudo bem Marcello, prazer em conhecê-lo então, sou Tânia.
-O prazer é todo meu.
Ela entrou na casa deixando a porta entreaberta. Depois de alguns instantes a porta se abriu novamente e dessa vez apareceu um mago de pele clara, olhos e cabelos azuis claros e um sorriso no rosto.
-Bom dia. - ele disse.
-Bom dia, é sua mãe?
-Sim, é.
-Ela é muito legal. - eu disse com um sorriso no rosto.
-Sim, ela é.
-Você tá ocupado hoje Ângelo?
-Não.
-Então posso te roubar por um dia?
Por um momento ele ficou pensativo.
-Hum... acho que você tem esse direito, vou verificar com meus superiores.
-Mãeeee. - gritou ele.
-O quêe? - ela gritou de volta.
-Posso ser furtado hoooje??
-Se te devolverem ainda hoje, siiim!!!
-Brigaadoo, beijos, te aaamo.
-Então, vamos? - eu disse.
-Claro, mas pra onde?
-Podemos ir à praça, depois almoço num restaurante e aí eu deixo você escolher pra onde quer ir.
-Quanta coisa, - ele começou a rir - mas aceito sim.
A praça não ficava muito longe da casa dele e como era sábado haveria várias pessoas lá, talvez tivéssemos a sorte de ver um grande mago fazendo coisas legais.
Assim que chegamos à praça procuramos um banco pra sentar, e pra meu azar não tinha mago nenhum fazendo coisas legais aqui hoje.
-Poxa, que triste, achei que hoje tivesse algum mago aqui fazendo magias bonitas.
-É verdade, não vejo nenhum mago aqui hoje.
Não sei definir o olhar dele daquele momento, era quase como se ele estivesse ofendido e bem humorado ao mesmo tempo.
-Ah, você não conta, Ângelo.
-E porque não?
-Porque você não sabe fazer as coisas legais.
-Isso é o que vamos ver.
Ele se levantou e andou até o meio da praça, parou e fechou os olhos. Sua aura azulada começou a se intensificar. De repente ele estava se movimentando como se estivesse dançando, e a temperatura começou a baixar. Começaram a surgir pequenos cristais em volta dele, e os cristais acompanhavam os movimentos das suas mãos. Como ele estava usando magia de gelo, seus movimentos eram leves e serenos, diferentemente da magia da terra que usava movimentos bruscos, ou a magia do fogo que usava movimentos de fúria. Os cristais começaram a se juntar, e a tomarem uma forma, até que ele parou de dançar. Ao seu lado agora existia um anjo, feito de gelo, e era lindo.
-Nossa... isso é... encantador.
-Muito obrigado.
As pessoas que estavam assistindo começaram a aplaudi-lo.
-Obrigado, a todos. - ele disse, com o rosto vermelho.
Era óbvio que ele não estava acostumado àquilo, mas aparentemente fez-lhe muito bem. Em seguida ele voltou a sentar no banco, ao meu lado.
-Espero que isso tenha sido legal pra você. - ele disse com um sorriso bem largo no rosto.
-Ok, você já recebeu aplausos e tá até convencido, será que terei mais surpresas hoje?
Ambos rimos muito, era divertido esquecer a prova e o treinamento por algum tempo.
-Oi, você sabe fazer mais alguma coisa? Minhas filhas adoraram.
Era uma moça com duas crianças que pareciam extasiadas com tudo que aconteceu.
-Hum... eu posso tentar.
-Se não for muito incômodo, eu ficaria muito agradecida.
-Tudo bem, vou fazer então.
Novamente ele foi para o meio da praça enquanto a mulher sentou ao meu lado e as crianças sentaram no chão.
-Ele é seu amigo não é? - ela disse pra mim.
-É sim.
-Deve ser fantástico conhecer alguém tão talentoso.
-É, é sim.
Desta vez ele demorou mais pra se mexer, sua aura estava um pouco maior, mas enfim ele estava fazendo os mesmos movimentos, porém dessa vez não surgiram cristais, e sim uma névoa azulada que seguia fielmente suas mãos. Ele começou a rodopiar fazendo com que a névoa se transformasse num fio muito comprido que refletia a luz, era uma cena fantástica, até que o fio foi se enrolando nele, e ele começou a congelar. Fiquei em choque, será que algo havia dado errado? Porque ele aceitou fazer se não tinha total controle sobre a magia? Agora, em seu lugar havia uma estátua de gelo... dele. Levantei-me e comecei a ir em sua direção, mas uma voz sussurrou em meu ouvido.
-Acalme-se, está tudo bem.
Olhei pra trás e não havia ninguém, voltei a olhar pro estátua de gelo e ela começou a emitir um brilho fraco, e depois começou a se movimentar assim como Ângelo havia feito da primeira vez, e novamente os cristais de gelo surgiram acompanhando os movimentos da sua mão formando outra estátua de gelo, novamente com a aparência do Ângelo. A primeira estátua ficou parada e seu brilho começou a diminuir enquanto que o mesmo brilhou começou a surgir na outra estátua. A segunda estátua começou a rodopiar e um fio começou a se formar em volta dele. A estátua começou a ficar menos transparente e mais branca, até que eu estava olhando novamente pro Ângelo rodopiando o seu fio comprido, e ao seu lado a estátua de gelo com sua imagem. Por fim, ele parou de rodar, estendeu os braços e o fio se estendeu fazendo um fino bloco de gelo envolta de si e de sua estátua. Ele olhou pra mim, sorriu e começou a andar em minha direção. Eu ia avisar que ele ia bater no globo de gelo, mas ele simplesmente o atravessou como se ele não existisse, assim como o globo permaneceu intacto, como se ele nunca tivesse o atravessado.
-Marcello, eu ficaria feliz se você respirasse.
Olhando mais de perto ele estava meio ofegante e uma gota de suor escorreu da sua testa.
-Nossa... o que foi isso?
-Hum... acho que você não gostou né?
-Eu fiquei preocupado.
-Eu disse que estava tudo bem.
As crianças que estavam com a moça começaram a aplaudir. Em resposta foram surgindo aplausos de todos os cantos da praça, alguns começaram até a assobiar!
-Parabéns senhor mago.
-Obrigado senhor espadachim.
-Isso foi maravilhoso! - disse a moça - Muito obrigada.
-Não há de que.
-Ok, agora já chega de você dar atenção aos outros, sou possessivo.
Ele começou a rir muito.
-Tudo bem, prometo ficar sentadinho aqui.
-Bem melhor.
-Vai comprar a coleirinha também?
-Ah não, é muito caro, você não vai fugir, vai?
-Vou pensar no seu caso.
-Você não fugiria de mim.
-Como pode ter tanta certeza?
-Porque sou eu.
-Nossa... vou me abster de fazer comentários.
-Ha ha.
Ele deu uma risada tímida, aliás, não só a risada, ele parecia ser muito tímido, e isso tinha que ser contornado.
-Você já tá com fome?
-Devo admitir que usar magia me abriu o apetite, onde você quer comer?
Isso era algo que eu não tinha pensado ainda, assim como havia esquecido completamente que precisava pegar o bolo que minha mãe fez pra levar pra Carol.
-Bem, podemos almoçar no restaurante da Beatriz, é perto da minha casa, preciso pegar um bolo com minha mãe pra levar pra Carol.
-Ela está bem?
Ele pareceu tão preocupado quanto todos que souberam que ela foi pro Covil Sombrio.
-Ela está se recuperando.
-Ah... bem, vamos então.
-Sim, vamos.
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