O domingo passou rápido, fui para a biblioteca ler mais sobre as técnicas que usavam espada e fogo ao mesmo tempo para poder treiná-las durante a semana, já que comecei a treinar as técnicas de espada flamejante há pouco tempo, e essas técnicas seriam muito importantes para a prova final. Não vi o Ângelo, mas teria o resto da semana, não queria contar com o tempo que vinha após a prova final.

Na segunda fiz minha rotina do dia-a-dia, até chegar à casa de poções. Não sabia se devia esperar a Carol, mas o Ângelo apareceria e isso era algo muito bom. Não demorou para que ele chegasse. Cumprimentamo-nos com um abraço apertado e um beijo na bochecha.

-Bom dia Marcello. - ele disse com um sorriso no rosto.

-Bom dia!

-A Carol vem?

-Não sei.

-Acho que podemos esperar um pouco.

-Sim, vamos.

-O que você fez ontem?

-Fiquei estudando algumas técnicas. E você?

-Durante o dia eu dormi, de noite eu tentei treinar um pouco.

-Porque você não treinou durante o dia?

-Sou um mago que usa o poder do frio e da escuridão, a lua é a minha regente, eu funciono melhor à noite.

-Então viver à luz do dia te incomoda?

-Não, eu só me sinto melhor de noite, mas não é ruim viver com o sol... pelo menos quando não está muito quente...

-Olá meninos.

Foi muito reconfortante ouvir a voz da Carol, e ela parecia ótima.

-Oi Carol, você não tá totalmente recuperada não é mesmo?

-Porque você diz isso Marcello?

-Você cumprimentou que nem gente.

-Ah, que amor que você é Marcello, e não quero ouvir sua opinião Ângelo, porque você vai defendê-lo.

-Não falei nada.

-Muito bom. Vamos?

-Sim senhora.

Ela me deu língua, e fomos. Ficamos conversando sobre nossos domingos até que o Ângelo precisou ir para o bloco A enquanto que eu e a Carol fomos para o bloco dos espadachins.

Passei a manhã tentando treinar alguns dos conceitos que aprendi com a Carol, mas eram muitos conceitos e de um nível de dificuldade muito elevado, provavelmente iria me consumir toda a semana, mas valeria à pena. O almoço veio rápido.

-Como foi a manhã de vocês dois?

-O Marcello ficou treinando técnicas que ele havia aprendido, eu tentei ajudá-lo usando técnicas com água, e você?

-Tentei melhorar o foco e a rapidez das magias.

-Conseguiu?

-Hum, não muito bem, as magias estão demorando.

-Você tem uma semana Ângelo.

-Eu sei Marcello, essa uma semana será para aperfeiçoamento.

-Você não pensa em reforçar o que seu professor deu nas últimas aulas.

-Não tenho tempo pra isso.

-Você que sabe.

A tarde passou tão rápida quanto a manhã. E a terça e quarta.

A quinta havia sido reservada para a preparação psicológica e, portanto a academia ia ficar fechada para os alunos do último ano intermediário.

Hoje eu combinei de passar o dia com a Carol e o Ângelo, e a noite com minha mãe. Eu havia pedido pro Ângelo pra mostrar a caverna pra Carol, e ele havia aceitado, íamos depois do almoço. Almoçaríamos na Beatriz, como um gesto de almoço final afinal, tínhamos que nos preparar para o pior.

Eu estava trocando de roupa, coloquei meu traje vermelho que usava para eventos e fui para o restaurante. Ao chegar lá eles já estavam me esperando numa mesa no centro do restaurante.

-Olá Marcello. - ele disse, meio apreensivo.

-Oi Ângelo, e oi Carol.

-Oi.

Ela também não estava muito calma.

-Vocês dois parecem nervosos.

-Você também. – disse o Ângelo.

-Acho que podemos esquecer isso por hoje. – disse a Carol.

-É, você tem razão, vamos esquecer isso por hora, já pediram seus pratos?

-Estávamos esperando você. - respondeu a Carol.

-Obrigado, vou chamar o garçom.

Chamei com um gesto, desta vez não era o que o Ângelo conhecia.

-Já escolheram?

-Nachos. – eu disse.

-Paieja. – Ângelo disse.

-Salada verde com molho branco. – Carol disse.

-Já trago.

-O lugar que vocês vão me mostrar... é perigoso? - a Carol perguntou.

-É fora da cidade, mas não tem perigo. – disse o Ângelo.

-É muito bonito Carol, você vai ver.

-Assim espero.

Ficamos em silêncio algum tempo, era difícil ter conversa com a tensão no ar. Tal silêncio só foi quebrado quando o garçom trouxe a comida. Mais uma vez foi uma refeição silenciosa. Acabamos de comer, pagamos e fomos em direção ao portão sul, Ângelo olhou para o portão de transporte de uma forma diferente, eu precisava me lembrar de perguntar sobre isso a ele ainda hoje. Adentramos por entre as árvores até que a Carol cortou o silêncio.

-Essas árvores são muito lindas.

-Esse lugar é especial Carol.

-Que lindo Ângelo.

-É verdade, as energias daqui são muito puras, é como se fosse um local sagrado, mas que não me proporciona dor.

-Como assim?

-Se fosse sagrado não me faria bem, sou em parte mago negro.

-Ah sim, é verdade.

-Marcello, ainda vives?

-Sim, só estou aproveitando o momento.

-Hum...

Continuamos caminhando até chegar à caverna.

-Luz. – declarou o Ângelo, e novamente surgiu uma luz entre suas mãos – Vamos?

Caminhamos até chegar ao local dos cristais verdes.

-Bem, é aqui Carol.

A Carol ficou maravilhada, assim como eu, com o lugar.

-É tão maravilhoso, é... absolutamente lindo.

-Fico feliz que tenha gostado.

Eu não conseguia suportar aquilo, o pensamento de talvez perdê-los era como um veneno que me magoava cada vez mais.

-Eu amo muito vocês dois. – eu disse.

Eles me olharam de um jeito diferente, com ternura, como se o veneno que me corroesse também circulasse no sangue deles. Nós nos abraçamos, a Carol foi a primeira a começar a chorar, eu não resisti e nem o Ângelo.

-Vai dar tudo certo. – a Carol disse, mas mais pareceu uma súplica.

-Se não der certo amanhã pelo menos serei feliz por ter conhecido a felicidade, por ter a oportunidade de ser eu mesmo por um breve período, mas o suficiente para ser eterno. – disse o Ângelo.

-Ah maguinho gelado... pára de falar coisa bonita.

-É verdade.

Entre lágrimas, soluços e silêncio ficamos lá algum tempo, um encima do outro, fazendo carinho. Como disse o Ângelo, era um momento eterno. Após algum tempo, que provavelmente foram horas, a Carol disse:

-Vamos, precisamos dormir bem.

Como se eu fosse conseguir dormir hoje.

-É verdade, vamos Marcello?

-Vamos sim, sobre amanhã, boa sorte a nós.

-Boa sorte. – eles disseram juntos.

Voltamos para a cidade, com menos peso na consciência. Deixamos a Carol na casa dela, e depois o Ângelo me deixou em casa. Paramos e ficamos frente a frente, eu segurei a mão dele que como sempre estava fria, fui chegando mais perto, até que nossos lábios se encontraram uma vez mais e nos beijamos. Ficamos ali parados, frente a frente, por algum tempo se olhando, quando o Ângelo me abraçou com força.

-Obrigado por me devolver a vida. - ele disse.

-Obrigado por me mostrar o que é amar.

Eu definitivamente estava muito emotivo.

-Até amanhã...

-Até.

Entrei em casa como se tivessem anunciado a morte de alguém, minha mãe ficou no meu quarto comigo, até que eu adormeci no colo dela.

Acordei no outro dia, tomei banho, escovei os dentes, tomei café, dei um abraço forte em minha mãe, disse a ela que a amava e fui para a academia, sem parar na casa de poções. Eu não podia me desconcentrar. Entrei na arena, já estavam distribuindo os calabouços, com o globo de uma semana atrás, porém era meu professor que estava com o globo, esperei na fila até que ele chegou em mim.

-Boa sorte Marcello.

Peguei o papel dentro do globo, e a escrita do papel não podia ser verdade.

-Covil Sombrio...

Bem, era isso, eu ia pro Covil Sombrio, mas não queria uma despedida com a Carol e o Ângelo, não queria preocupá-los.

-Professor, o senhor pode me dar o mapa?

As palavras quase não saíram, minha voz estava baixa e isso não era normal vindo de mim, não que eu fosse escandaloso mas... é, talvez eu estivesse entregando os pontos, mas eu não podia e não ia fazer isso, eu ia passar nessa prova e virar um membro da nação Oriental.

-Seu mapa está ali com aquele mago, pode ir lá e... use tudo que aprendeu, eu confio em você.

-Obrigado.

O mago era o professor do Ângelo.

-Qual mapa você precisa meu jovem?

-Covil... Sombrio.

-Hum...

Ele pegou um mapa manchado com algumas gotas de sangue e me entregou.

-É este aqui.

-Obrigado.

-Boa sorte.

Andei em direção à saída da academia tentando ir por um caminho um pouco mais escondido para não encontrar nenhum conhecido. Consegui sair da academia sem encontrar ninguém, agora era só fazer isso pelo resto do caminho até a saída oeste, que era para onde eu precisava ir.

O resto do caminho pela cidade foi por entre ruas sinuosas e afastadas do centro da cidade, até eu finalmente chegar ao portão oeste. Segundo o mapa, esta saída dava pra uma planície, seguida ao norte por uma cadeia de montanhas e ao sul por uma área desertificada. O Covil Sombrio ficava na divisa dos dois, mas não era longe. Segui em frente tomando cuidado pra não ser pego de surpresa por algum monstro, até que avistei a entrada do Covil. Aparentemente parecia uma mina abandonada e tinham dois lobos negros de guarda, era a hora de me preparar. Deixei a energia fluir e o fogo tomar conta das espadas. Um dos lobos me viu e correu em minha direção, o outro veio logo em seguida. Corri em direção a eles.

-Tornado ardente!

Girei com a espada em chamas, mas o primeiro lobo se desviou e pulou encima de mim, também consegui me desviar, mas o outro lobo agora estava muito próximo, eu precisava acabar com o primeiro antes que o segundo chegasse. Neste instante o primeiro lobo tentou um segundo golpe.

-Estocada impactante!

Eu investi com uma das espadas, acertando o lobo em cheio, mas o segundo lobo também me atacou, fazendo um arranhão no meu abdome, porém agora ele estava do meu lado.

-Corte flamejante!

O golpe não o acertou, mas o fogo o deixou cego e era isso que eu queria.

-Lâminas duplas!

Cravei as duas espadas no lobo. Eu nem tinha entrado e já estava arranhado, e estava ardendo bastante, por sorte o traje aguentou bem, se não teria sido um corte bem profundo. De qualquer forma, não importa, eu precisava acabar logo com isso. Vi se os lobos não tinham nada de valor, porque haviam me dito que aqui os monstros poderiam carregar alguns itens que poderiam ser revendidos na cidade, mas eles não tinham nada. Fui em direção à entrada.

Lá dentro estava escuro, a luz do fogo seria bastante útil. Caminhei atento a qualquer sinal, porém nenhum sinal apareceu. Se não fossem os lobos na entrada, eu diria que estava no lugar errado, porque tudo estava muito quieto, quieto demais...

Continuei caminhando até que ouvi um barulho e uma gota caiu no meu cabelo. De repente algo estava grudado no meu pescoço e estava chupando meu sangue! Segurei a criatura e a cortei em duas, era um morcego vampiro. Agora eu precisava ser mais rápido ainda, esse morcego era conhecido pelo veneno que injeta nas vítimas, que dentro de minutos começa a deixar a presa atordoada até ela desmaiar, era um veneno de imobilização. Além disso, meu pescoço estava sangrando.

Corri em frente, eu precisava urgentemente achar o chefe e matá-lo, antes que o efeito do veneno começasse. Só parei de correr quando avistei uma luz de fogo que não era a das minhas espadas. Tentei espiar. Era uma sala maior que o corredor que eu estava seguindo até agora, com uma cadeira de pedra, na qual estava “sentado” uma espécie de fantasma, parecia uma pessoa, porém com várias feridas e semitransparente. Além dele havia dois lobos negros e quatro morcegos no teto, minha única chance seria acabar com os morcegos de uma vez, mas não sei se eu iria conseguir produzir tanto fogo. Era a única chance e seria a que eu tentaria, minha pernas estavam começando a amolecer. Entrei na sala em direção aos quatro morcegos. Assim que eles me viram, voaram em minha direção, logo atrás vieram os lobos e o fantasma começou a evocar uma magia. Continuei correndo até que os quatro morcegos mostraram as presas, eles estavam muito perto de mim, se eu errasse, seria atacado.

-Fúria das espadas flamejantes!

O fogo das espadas se intensificou e eu comecei a fazer cortes no ar, cada corte lançando uma labareda de fogo. Acertei os quatro morcegos, mas os lobos pararam ao ver o ataque. Algo que eu não esperava aconteceu.

-Pesadelo. - disse o fantasma.

Eu me vi voltando pra casa, todo machucado, e sem conseguir matar o chefe. A Carol e o Ângelo estavam mortos.

-NÃÃÃÃOOOO!!!!

Um dos lobos mordeu a minha perna enquanto o outro mordeu meu braço e minha cabeça começou a latejar de dor.

-Tornado ardente!

Girei com as espadas em chamas, cortando ambos os lobos, mas agora além do pescoço eu tinha um braço e uma perna sangrando, fora o cansaço que estava se abatendo sobre mim, cada vez mais forte. O fantasma começou a evocar uma nova magia, eu não podia deixá-lo fazer isso. Corri em direção a ele, a cada passo minha perna dava uma pontada de pura dor, como se estivessem enfiando uma faca nela, mas agora não era hora de se importar com dor.

Quando eu cheguei bem próximo ao fantasma, gritamos ao mesmo tempo.

-Estocada impactante!

-Lança negra!

Eu afundei a espada aonde deveria ser o coração dele e ele lançou algo que parecia uma agulha roxa, que perfurou meu peito. O fantasma desapareceu, deixando pra trás um broche roxo que eu entendi como a prova de que ele foi morto. Coloquei a mão no peito e minha mão ficou coberta com sangue, a dor e a fraqueza começaram a se intensificar.

Caminhei de volta para a entrada, mas o fogo das espadas estava ficando cada vez mais fraco e a minha visão cada vez mais obscurecida. Quando eu vi a luz do sol desisti de manter o fogo, agora eu era um alvo fácil, eu não conseguiria me defender de nada, mas não parei de andar mesmo que cambaleando.

Estava atravessando a planície, até que a fraqueza ficou forte demais e eu caí. A dor das feridas estava muito intensa e eu quase não enxergava mais. De relance eu vi o Ângelo correndo em minha direção, talvez a morte não fosse tão ruim já que eu estava vendo o Ângelo no céu.

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Prefácio

Marcelo é um espadachim de fogo e seu sonho está muito próximo de se tornar realidade.
Ângelo é um mago de gelo com uma vida prestes a mudar.
Miro é um guerreiro de fogo com sérios problemas com seu rival.
Glaucos é um arqueiro de vento galanteador e de vida fácil.
Cada um deles tem um segredo, os quais estão prestes a serem revelados.

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