Sentei na minha cadeira no canto, quando o professor começou a dar as instruções.

-É uma exploração simples, vocês não têm um objetivo certo dessa vez, nas futuras explorações provavelmente terão. Vocês devem conhecer o terreno melhor. Existem alguns itens valiosos que podem ser encontrados com alguma sorte, mas todos eles precisam de inteligência para serem obtidos. Vocês não podem formar grupos, só depois do meio dia. Por fim, estejam preparados para ataques, há alguns monstros na floresta, não muito fortes, mas que ainda assim não devem ser subestimados. Preparados?

Todos fizeram que sim com a cabeça.

-Então, vamos.

Saímos junto das outras salas, eu queria falar com o Miro, ele devia estar muito mal, mas eu não o vi e também não poderia ficar junto dele na floresta. Andamos pela cidade até uma saída com um portão muito grande e bonito, metálico, com algumas plantas enroscadas nele. De relance eu vi o Glaucos e do outro lado o Caronte. Respirei fundo e entrei na floresta.

Era bonita, não era muito fechada e não parecia corrompida por espíritos ruins, era difícil acreditar que pudessem ter monstros por aqui. As árvores eram altas e suas folhas eram verde escuras, o vento conseguia soprar livremente e eu estava encantado com o lugar. Deixei a magia negra livre, agora que as outras pessoas não estavam muito próximas de mim e continuei andando. Enquanto caminhava eu vi um pequeno lago, não me aproximei muito por causa do aviso do professor, mas era lindo. Acho que caminhei durante uns 20 minutos quando achei uma caverna. Lembrei-me da minha caverna, que agora estava tão longe de mim. Talvez fosse bom estar dentro de uma caverna de novo. Entrei nela e quase que instantaneamente me senti estranho, como se não estivesse cansado, como se estivesse dormindo. Fiquei preocupado com isso, mas por alguma razão gostei daquilo. Olhei para trás e a saída continuava ali, então eu não precisava me preocupar. Continuei a andar. A caverna devia ter uns 3 metros de altura e era feita de rochas cinzentas comuns, sem nenhum ornamento. Talvez já tivessem vindo aqui e levado as pedras preciosas, caso tenha tido alguma. Caminhei até chegar numa gruta grande, mas vazia e sem saída. Era bom estar ali, me lembrava das coisas que deixei para trás.

-Nem tudo você deixou pra trás...

Eu me assustei muito quando ouvi aquela voz, era impossível. Virei-me e vi um espadachim, fantasmagórico, de cabelos vermelhos e uniforme Oriental branco.

-Marcello...

-Olá.

Agora eu tinha percebido uma pequena névoa branca em volta da sala, provavelmente alguém estava fazendo magia negra contra mim. Tentei achar algum rastro de magia negra, mas não havia nenhum, por outro lado a sala estava inundada em magia branca. Só que magia branca não consegue fabricar ilusões, então...

-Marcello, eu estou louco?

-Não. Eu estou realmente aqui.

Uma lágrima desceu pelo meu rosto.

-Você está morto.

-Sim.

-Perdoe-me...

-Ângelo, não foi culpa sua.

-É claro que foi!!! Eu não consegui te salvar, eu sou um fracasso como mago!

Eu sentei no chão.

-Ângelo... por favor, me escuta. Você não é um fracasso, aquilo que você tentou fazer é muito difícil, não é fácil lidar com a morte.

-Por que eu não consegui?

Ele ficou em silêncio por um momento.

-Ângelo, nós ficamos juntos por pouco tempo... não foi o suficiente para você conseguir me salvar, foi isso, não se culpe.

Fiquei quieto, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

-Ângelo.

-Diga...

-Eu vim aqui por um motivo.

Olhei para ele. Ele parecia um pouco cansado e triste.

-Pode falar Marcello.

-A única pessoa morta nesta caverna sou eu, você não pode ter medo de continuar sua vida, era a minha hora de partir, mas não é a sua.

-Por que você está dizendo isso?

-Porque você gosta do seu amigo e porque você está se prendendo, assim como fez comigo. Você precisa dar uma chance a si e a ele.

Aquelas palavras me cortaram, a verdade nunca doera tanto. Acredito que se tivesse uma forma de morrer de angústia, eu estaria morrendo agora.

-Não fique triste com isso Ângelo.

-Como eu poderia ficar feliz? Por favor, me diga como eu conseguiria ver felicidade, eu me sinto te traindo.

-Fico feliz que você tenha gostado tanto de mim, mas agora seu coração pertence à outra pessoa.

-Eu não queria ter me apaixonado de novo.

-Ninguém manda no coração.

Sequei as lágrimas do meu rosto.

-Ângelo, não posso ficar aqui mais tempo e não poderei voltar mais.

-Eu sinto sua falta.

-Nós ainda vamos nos ver, um dia. Continue sua vida e você me fará feliz.

-Eu... vou tentar.

-Você tem que conseguir, seja confiante.

-Eu não sou você, não tenho sua confiança.

-Mas eu confio em você. Se cuide.

-Te amo.

-Eu sei, sempre seremos amigos.

-Você ainda é convencido.

Ele riu e começou a desaparecer, eu o vi partindo pela segunda vez. A névoa branca começou a desaparecer junto.

Sentei e fiquei ali um tempo, tentando entender o que vira, eu realmente vira o Marcello, eu estava feliz por isso e estava mais aliviado, um pouco da culpa foi embora, mas como isso tinha acontecido? Como ele conseguiu vir para o mundo dos vivos? Eu podia pensar nisso outra hora, com a fome que eu estava provavelmente já era meio dia. Era hora de ir, me levantei e estava quase saindo da gruta quando vi um brilho no meio da gruta, no chão. Parecia ser uma pedra, transparente, parecia um... DIAMANTE!!!! Corri para pegá-lo, mas ele estava preso no chão e eu não conhecia magia de terra. Como eu poderia tirá-lo dali?

Eu não conhecia magia de fogo para derreter as pedras em volta também. Apesar de que... se eu conseguisse abaixar bastante a temperatura das pedras, elas ficariam mais duras e consequentemente mais frágeis, daí eu só precisaria de algo forte o suficiente para partir as rochas e a partir da rachadura eu poderia terminar de quebrar as pedras. Até que era uma boa idéia. Primeiro eu precisava deixar as pedras frágeis.

-Congelar.

Agora era só fazer alguma rachadura.

-Lança de Vento.

Não surtiu muito efeito, mas talvez precisasse de mais força.

-Lança de Vento, Lança de Vento, Lança de Vento.

As três lanças bateram nas pedras e fizeram rachaduras.

-Isso!!

As pedras começaram a fazer barulho, as rachaduras fizeram outras rachaduras e as pedras se quebraram, mas para meu azar, tinha um enorme buraco abaixo delas e eu estava encima de uma rocha que estava se partindo. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa eu estava caindo.

-Flutuar!

Eu estava flutuando, mas algumas rochas iam me acertar logo logo, eu precisava me defender.

-Parede de gelo!

Eu tinha lido sobre usar duas magias ao mesmo tempo e sabia o quão difícil era, mas eu tinha tentado com magias do mesmo tipo, com magias de tipos diferentes era ainda mais exaustivo. As pedras começaram a bater na parede que eu tinha feito acima de mim, porém o diamante estava caindo e ele não tinha batido na parede de gelo.

-Droga...

O único jeito era largar a parede e ir atrás do diamante e foi o que eu fiz, mas flutuar era muito lerdo, eu precisava de algo mais rápido. Lembrei de uma magia de levitação que dizia ser rápida, mas eu nunca testei, era uma boa hora. Saí debaixo da parede de gelo e gritei.

-Aladooo!!!

Duas asas de gelo nasceram nas minhas costas. Eu não acreditei que aquilo fosse me manter no ar, mas como eram mágicas, elas me mantiveram. Mergulhei. Eu precisava achar rápido o diamante, aquela magia era muito forte, me cansava muito. Vi um brilho tímido no ar, envolto de algumas pedras. Era minha chance, tentei ir mais rápido, me desviei das pedras, agarrei o diamante e comecei a subir rápido. Quando estava quase saindo daquele buraco a caverna começou a tremer. Ótimo, agora além de tudo ela ia desmoronar, o que mais faltava? Sai do buraco e continuei voando em direção à saída, me desviando das pedras que caíam do teto. Quando eu estava quase saindo uma pedra acertou minha asa direita e a quebrou. Tentei permanecer no ar, mas foi muito difícil. Consegui só o suficiente para sair da caverna, cai na grama, quebrando também a outra asa. A caverna desmoronou, até que só havia ruínas.

Eu estava ofegante, eu tinha usado várias magias ao mesmo tempo e agora eu estava admirando o diamante na minha mão. Se eu não estivesse tão cansado eu poderia ter saído pulando de felicidade. Coloquei o diamante no meu bolso, prendi a magia negra e tentei voltar para a cidade. Não demorou muito para eu ouvir vozes conhecidas, como a do meu professor.

-Olá Ângelo, como está indo a exploração? E... por que você parece tão cansado?

-Professor... deixa eu respirar um pouco...

-Tudo bem.

Nós nos sentamos.

-Eu achei uma caverna.

-Não Ângelo, você não achou, não tem caverna nessa floresta.

-É claro que tem! Eu quase morri nela!

-Como assim?

-Ela desmoronou.

-Conte-me a história toda.

-Eu estava andando, daí achei uma caverna.

-Sim, continue.

-Daí eu entrei nela e...

Eu não se queria contar sobre o Marcello, provavelmente ele acharia que eu estava louco. Mas como eu também achava então não fazia diferença.

-E eu vi o fantasma de uma pessoa.

-Hum...

-E eu conversei com o fantasma.

Ele me olhou com um olhar de interesse, talvez ele achasse que eu estava mentindo.

-Não é mentira, eu tenho como provar, eu achei esse diamante lá dentro.

Peguei o diamante do meu bolso e mostrei a ele. Realmente um diamante era algo raro, mas pela cara que ele fez parecia ser mais raro do que eu imaginava.

-Ângelo, isso não é um diamante...

Não acredito...

-Você está me dizendo que eu quase me matei para pegar isso por nada?

-Não, não, você não está entendendo... eu acredito que você tenha achado uma caverna, mas volto a dizer, não tem nenhuma caverna nesta floresta.

-Não entendi.

-Essa caverna que você achou foi fruto dessa pedra. É uma pedra do sonho.

Eu já tinha lido algumas vezes sobre essa pedra, era uma pedra que tinha poderes mentais mais poderosos, mas até onde eu sabia ela era uma lenda.

-Professor, não pode ser...

-Eu também não acreditaria, mas é a única explicação e definitivamente isso não é um diamante.

Ele mostrou o orbe dele, era de um metal prateado, mas não era prata, era mais bonito e no meio tinha uma pedra transparente, mas com menos brilho que a minha.

-Viu? Isso é um diamante, a sua não é tão poderosa quanto um diamante com magias de gelo ou vento, por exemplo, mas com magias da mente essa sua pedra pode fazer enormes feitos.

-Ela é tão forte quanto uma esmeralda com as magias que não são mentais?

-Provavelmente sim.

-Perfeito!!! Eu posso fazer um orbe com ela!

-Seria um orbe realmente fantástico, se você o fizer com o metal certo.

Ok, isso era um problema, eu não tinha dinheiro para comprar um metal bom o suficiente para a pedra e eu não ia tropeçar em um no meio da floresta, eu acho...

-Ah, droga... talvez demore um pouco para eu conseguir um bom metal.

Ele me avaliou por um momento e disse:

-Como seu professor, eu sinto a necessidade de ajudá-lo. Eu tenho o metal perfeito para você, mas vou cobrar por isso.

-Desculpe-me professor, mas eu não tenho dinheiro para isso.

-Não me recordo de ter citado dinheiro, quero que você me faça alguns favores em troca.

-Eu faço, faço o que você quiser.

Minha felicidade estava voltando à tona e ele notou isso.

-Ótimo, depois conversamos sobre suas tarefas. Vou levar a pedra e o metal para um ferreiro, te entrego assim que ela ficar pronta.

-Obrigado professor, de verdade.

Eu o abracei, meio de lado e dei a pedra a ele.

-Não me agradeça, você terá muito trabalho jovenzinho.

Eu ri.

-É justo.

Mas uma coisa estava me incomodando, se a pedra fabricou a caverna e a caverna era um sonho...

-Professor, o fantasma também foi criado pela pedra?

-Não, a pedra não tem tanto poder. Ele se aproveitou do lugar que a pedra criou para conseguir te ver. É mais fácil um fantasma ir para um sonho do que para o nosso mundo.

-Ah...

-Ângelo, você precisa se alimentar, vá encontrar a Aglaope, ela está logo ali, depois daquele grupo de guerreiros. Ela vai te mostrar onde você vai almoçar.

-Tudo bem, obrigado por tudo professor.

-De nada e... tente guardar segredo sobre isso meu jovem.

-Segredo absoluto?

-De preferência.

-Só vou contar para três pessoas.

-De confiança?

-Sim.

-Tudo bem, vai almoçar.

-Até mais tarde.

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Prefácio

Marcelo é um espadachim de fogo e seu sonho está muito próximo de se tornar realidade.
Ângelo é um mago de gelo com uma vida prestes a mudar.
Miro é um guerreiro de fogo com sérios problemas com seu rival.
Glaucos é um arqueiro de vento galanteador e de vida fácil.
Cada um deles tem um segredo, os quais estão prestes a serem revelados.

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