Eu o vi, ele parecia muito machucado, mas estava andando, ou pelo menos estava... ele caiu...?! Seu rosto estava voltado pra mim, mas seus olhos pareciam... distantes... ele parecia estar morrendo!
-Não! Flutuar!!
Eu comecei a flutuar em direção a ele. Cada vez que eu chegava mais perto eu percebia o quão ferido ele estava, mas não podia ser tarde demais, simplesmente não podia!
Quando cheguei até ele, coloquei sua cabeça no meu peito, provavelmente eu estava gelado, mas isso talvez ajudasse a estancar o sangramento.
-Marcelo? Marcelo, me responde!
Ele não respondia, seu coração batia fracamente e apesar disso ele não largava um broche roxo que provavelmente era o símbolo de que ele havia conseguido. Meus olhos começaram a marejar, ele não podia me abandonar...
-Marcelo, por favor, responde... por favor...
Uma voz ecoou na minha mente "Um sentimento puro, sincero e forte, associado à magia pode realizar milagres". Essa era a hora de observar a veracidade dessa frase, eu precisava de um milagre, precisava devolver a vida ao Marcelo. Concentrei-me, concentrei cada partícula de energia que possuía, cada esperança, cada sonho, cada lembrança, cada vago segundo que passei ao seu lado estavam aqui e agora. Uma névoa branca começou a se formar à minha volta. A névoa percorreu o corpo dele, fechando seus ferimentos. Meus olhos começaram a lacrimejar de felicidade. Quando a névoa estava chegando ao coração ela parou e uma parede escura se formou envolta dela. Parecia que aquela parede estava comprimindo meu coração, cada milímetro a menos de névoa era uma dor mais forte pulsando no meu peito. A parede foi se comprimindo, até que não se podia mais ver névoa, parede e nem meu coração batendo. Senti o mundo parando, perdendo aos poucos o sentido, a vida... O Marcelo deu um soluço, cuspindo um pouco de sangue, deu um suspiro e seu corpo ficou mole... Seu coração parou. A mão que segurava o broche se abriu.
Fiquei alguns segundos tentando entender o que havia acontecido.
-Marcelo...?
Uma lágrima caiu em seu peito e depois dela outras vieram, não sei quanto tempo fiquei ali, não importava, minha vida foi levada e agora eu estava só mais uma vez.
Peguei o broche que estava no chão, coloquei-o no meu bolso. Segurei seu corpo em meus braços e o levei de volta para a cidade. Minha cabeça estava uma confusão de absolutamente nada. Eu não sabia o que pensar. Tanto tempo me preparando para o pior, mas... eu o conheci a tão pouco tempo... De repente a lembrança dele parado na frente da casa de poções, me olhando, seus cabelos flamejantes ondulando com o vento...
Meus joelhos caíram por terra, e eu comecei a chorar, ainda o segurando. Eu não podia acreditar, eu nunca mais ia ouvir aquela voz doce no meu ouvido, a sensação da mão quente no meu rosto... agora, no meu colo, ele estava ficando frio...
Cada lembrança vinha e rasgava uma parte de mim. Eu fiquei ajoelhado ali, até que um guarda viu a situação e pediu pra levar o corpo do Marcelo...
Não! Eu não queria deixar! Eu não queria que tirassem ele de perto de mim! Por que com ele? Por quê?!
Infelizmente, o guarda não era o culpado por isso. Se fosse, eu o mataria. Deixei ele pegar o corpo do Marcelo e o acompanhei até o cemitério, andando de cabeça baixa por todo o trajeto. As pessoas se entristeciam ao vê-lo, era sempre assim... todos os anos...
O cemitério estava cheio. O guarda deixou seu corpo ao lado de alguns outros que não conseguiram e voltou para seu posto. Ele seria enterrado em breve, então esperei ali mesmo.
Quando já estava quase na hora do corpo do Marcelo ser enterrado, a mãe dele chegou. As lágrimas que corriam em seu rosto eram como fogo pra mim, doía ver aquilo, doía sentir a dor da perda de alguém... que era tão...
Colocaram-no no caixão, agora a mãe dele chorava desesperadamente e eu não havia visto a Carol, talvez ela não tivesse voltado ainda. As pessoas foram se aproximando do caixão, deixando flores. Andei até lá, olhei bem para ele, era a sensação da mais absoluta dor, eu o perdi... coloquei o broche em sua mão, virei às costas e comecei a andar, eu precisava sair dali... Fui parado por uma mão que segurou meu ombro. Era uma mulher, ela me perguntou:
-Esta é a prova de que ele conseguiu?
De que importava isso agora?! Ele estava morto!!! E não seria a droga de um broche que o traria de volta. Porém, descontar nessa senhora não era o correto a se fazer...
-Sim, é...
Ela colocou um traje vermelho com detalhes em branco, que era o uniforme que ele usaria, em seu túmulo, ao seu lado e disse:
-Neste caso, ele morreu como um membro da nação Jolnir.
Aquilo foi demais para mim, lancei um olhar do mais puro ódio nela e corri de volta para casa. Abri a porta, subi para o meu quarto e deitei. Aquele era o lugar onde eu não precisava me controlar, deixe a magia negra livre e chorei. Durante muito tempo eu não consegui me controlar, meu coração doía muito e por alguma razão eu me senti responsável pela morte dele. Lembrei dos ferimentos dele, em particular o que perfurava seu peito, era isso... aquilo era magia negra!
Uma dor muito forte tomou conta de mim, meu coração parecia estar sendo comprimido de novo, tentei segurá-lo dentro do peito. Minha mãe veio até a porta do quarto e me viu me contorcendo de dor.
-Ângelo! Acalme-se Ângelo! - gritou minha mãe.
Ela segurou meus pulsos. Seu rosto estava tomado pela tristeza e desespero.
-Eu sei que é difícil ver quem amamos partir meu amor, mas fique calmo!
Eu a abracei, as lágrimas não pararam de rolar nem sequer por um segundo.
-Está tudo bem Ângelo, ele está num lugar melhor, eu estou aqui com você agora, fique quietinho.
Eu não conseguia parar de pensar naquilo, naquela marca... a minha marca... Durante tanto tempo eu não soube o porquê de continuar a viver... Ninguém conversava comigo, eu não saia às escondidas, eu não fazia nada... Até que ele apareceu, e tudo se transformou... Eu tinha amigos, tinha conversas, tinha um amor... e tudo isso morreu na minha frente, e eu nem sequer tinha me acostumado à felicidade...
Só uma coisa era clara, aquele teste o matou, a nação Jolnir o matou, e eu jamais a perdoaria por isso.
-Mãe, obrigado, mas agora eu preciso ficar um pouco sozinho.
Eu tinha medo dos meus pensamentos sombrios, essa era a verdade. Eu não queria ninguém perto de mim se eu me tornasse... mal... Era essa a razão pela qual as pessoas me evitavam, elas diziam que eu podia ficar maléfico a qualquer momento. Nunca tinha acontecido, e eu achava que era mentira, mas arriscar a veracidade do fato com a minha mãe perto não era algo que eu gostaria de fazer.
-Tudo bem querido, te amo muito.
Ela tirou meu cabelo da frente da testa e me beijou ali. Foi um beijo demorado, e bom.
-Acho que você é tudo que tenho.
A verdade saiu pela minha boca como um suspiro sufocado... dizem que as pessoas levam parte de você quando se vão, o Marcelo levou meus sonhos, minha felicidade, meu amor e minha força de vontade...
-Pare com essas bobagens e tente dormir um pouco, - disse minha mãe - amanhã você precisa "escolher" sua nação.
A entonação na voz dela na palavra escolher era comum a todos, ninguém escolhia de verdade, todos permaneciam na nação na qual nasceram, afinal, quem trocaria uma vida toda por algo desconhecido?
O cansaço e o sono começaram a ganhar forças à medida que o tempo passava, até que eu adormeci.
Acordei, mas parecia que eu ainda estava no mesmo pesadelo de sempre, acho que hoje nem as plantas me ajudariam. Fui para o jardim, aproveitando a sombra da manhã. Como um mago, eu precisava de energia e as plantas eram o que eu tinha de melhor já que não tinha neve por perto. Fiquei no jardim captando a energia delas, era uma sensação boa, mas nem isso me tirou a dor do peito. Voltei para dentro de casa para escovar os dentes e tomar banho. Assim que sai do banheiro ouvi a voz da minha mãe:
-Ângelo, vem tomar café, você não pode se atrasar pra cerimônia.
Ah não, eu tinha me esquecido disso, como se não pudesse ficar pior. Foi um café da manhã silencioso, minha mãe devia estar muito feliz por eu ter passado no teste, mas eu estava muito magoado com a morte dele... e isso era algo que ela estava respeitando.
-Já está pronto querido?
Ela me pegou de surpresa, quebrando minha linha de raciocínio sobre como seria hoje.
-Não, preciso arrumar algumas coisas.
O fim dos preparativos da segunda decisão difícil que tomei em duas semanas. E pensar que passei tanto tempo sem nenhuma mudança...
-Ah, tudo bem querido, você só precisará se mudar pra perto da academia superior depois.
Eu queria tanto pular essa parte, mas eu sabia que seria inevitável...
-Hum, talvez não...
Tentei parecer casual e pouco apreensivo, omitir coisas sempre foi meu ponto forte.
-É sim, amor, eu me informei e...
Eu odiava aquela decisão, odiava de verdade, mas seria impossível continuar convivendo com aquela culpa em volta de mim, impregnada em cada prédio, em cada pessoa.
-Mãe, você se informou sobre as coisas da nação Jolnir.
O rosto dela ficou um pouco confuso, o que eu estava falando não fazia muito sentido, ainda.
-É, mas...
Então eu vi, o relance do entendimento em seus olhos. Ela entendeu o que eu ia fazer.
-Por quê?
Sua voz estava arrasada, parecia que eu tinha acabado de contar que ia me matar ou algo do tipo... seu rosto, mostrando algumas das suas rugas tensionadas, agora era uma máscara de infelicidade.
-Será melhor assim.
Eu não queria prolongar isso, eu queria acabar com isso, terminar essa conversa, e esquecer o que tinha ficado para trás. Essa era a minha decisão, e ver sua expressão agora não estava ajudando para manter a firmeza dessa decisão.
-Tem que ter um motivo!
Havia tantos motivos... tantas vezes eu os listei na minha mente, mas dizê-los agora? Eu não sei se teria coragem e nem tempo para tal.
-Existem vários, mas não temos tempo.
Ela olhou no relógio, a cerimônia começaria em 25 minutos.
-Mas... eu não posso permitir isso! Durante tanto tempo eu tentei te proteger...
-Eu sei. – eu disse, com um pouco de firmeza. – Eu sei o quanto você fez por mim mãe, você sempre foi minha melhor amiga, minha única, e nós dois sabemos o porquê.
Meu pai não era como o pai das outras pessoas desta nação, ele era um penumbra. Por algum motivo ele fugiu de lá e tentou se refugiar na nação Jolnir. Ele era um espadachim de água e escuridão. Foi muito difícil aceitarem ele, muito mesmo. Na verdade, só o aceitaram por completo no dia que ele morreu defendendo a nação Jolnir de um ataque da Penumbra. Minha mãe estava grávida de mim. A vida dele na nação fora um inferno, as pessoas o descriminavam por causa do elemento negro que corria em suas veias. Por causa disso, minha mãe me protegeu de todas as outras pessoas, e eu fiquei isolado do mundo, sem amigos, ou nada do tipo. Neste momento, eu estava pela primeira vez indo contra essa decisão dela.
-Ângelo, você tem certeza que quer fazer isso?
O que ela esperava que eu respondesse? Claro, mãe, estou completamente seguro sobre minha decisão de mudar toda a minha vida. Não, eu não estava. Mas eu tampouco poderia continuar vivendo às sombras da sociedade. Eu precisava ao menos tentar mudar.
-Tenho sim. Não se preocupe, não vamos perder o contato, eu já me informei sobre isso, eu jamais te deixaria assim.
Ela me abraçou com força, o que foi um alívio. Eu não queria entristecê-la, ela era minha mãe e minha melhor amiga, mas eu precisava fazer isso.
-Te amo meu filho.
Parte da culpa que eu levava comigo se dissolveu, ela nem imaginava o quão importante eram aquelas palavras...
-Também te amo mãe, muito.
Ela acariciou meu cabelo, o desarrumando um pouco.
-Acho melhor você arrumar suas malas rápido.
Eu concordei e fui para o meu quarto, coloquei minhas coisas numa mala, deixei-a pronta encima da minha cama. Bem, era essa a hora. Desci as escadas, minha mãe estava secando algumas lágrimas tímidas.
-Mãe, vai ser a mesma coisa...
Eu não podia suportar a ideia dela se lamentando pelos cantos, era eu quem fazia isso, não ela.
-Prometa que você vai vir me ver.
Pela expressão em seu rosto eu diria que ela ia me acorrentar em casa se eu dissesse não.
-É claro que vou! Eu não poderia ficar sem você!
Das poucas certezas que eu tinha, uma delas era essa, eu jamais conseguiria ficar sem ela.
-Tudo bem, é só que... é difícil pra uma mãe...
Ahhh, ela podia realmente parar de dizer essas coisas, eu estava quase repensando sobre aquilo... mas... eu não poderia fazer o oposto...
-Também é difícil para mim, mas é o certo.
Ela me entendeu, ela, como a pessoa que cuidou de mim durante toda a minha vida, me conhecia melhor do que ninguém, e sabia que ia fazer isso.
-Está bem, vamos.
Saímos de casa em direção à academia, ela estava toda enfeitada para a ocasião. A cerimônia seria no salão de almoço, o qual ganhara um palanque com as cadeiras dispostas de frente para o palanque. Os convidados foram sentando nas cadeiras enquanto que os "formandos" iam para o fundo do palco. De relance eu pude ver em um canto um senhor já de certa idade, parecia ser um mago, tinha cabelos castanhos e estava rodeado por várias pessoas, todos eles com vestimentas azuis, provavelmente era o líder da nação Delfos.
Atrás do palanque nos foram dadas as últimas instruções, nós ficaríamos lado a lado e o líder Jolnir perguntaria a cada um a nação a qual seguiríamos, o líder da nação escolhida daria um pingente com a cor representante da nação e dois uniformes referentes à classe do "formando", depois os novos integrantes da nação Jolnir teriam uma festa no próprio local para eles e os convidados, nada foi dito sobre quem escolheria a nação Delfos, o que era meio óbvio, já que ninguém escolhia mesmo. Deram um sinal para que entrássemos, esta era a hora... a hora que o Marcelo tanto quis...
Uma tímida lágrima desceu pelo meu rosto, eu a sequei rápido, precisava deixá-lo descansar em paz, apesar de isso ser tão difícil. Ficamos lado a lado no palanque com todos os convidados nos observando, emocionados. Era um grande momento para a grande maioria, me pergunto se ninguém pensava em pessoas como a mãe do Marcelo, que provavelmente estava mais arrasada que eu neste momento...
A cerimônia começou. Estava indo conforme o combinado e cada "Jolnir" proferido pelos formandos era seguido de uma salva de palmas, até que o líder Jolnir estava na minha frente. Uma moça ao lado dele já estava separando dois quimonos vermelhos, quando ele disse:
-Jovem mago, em qual nação você deseja ingressar?
Olhei para a minha mãe, que estava num canto, ela sorriu pra mim.
-Delfos.
A platéia silenciou por um instante, o líder jolnir perdeu o sorriso do rosto e deu alguns passos para trás. O líder delfi levantou de onde estava sentado e foi até o palco. Ele tinha um olhar muito doce, surpreso, assim como todos, mas parecia muito contente. Além disso, fora fielmente seguido pelas outras pessoas de azul, havia um guarda de cada classe. Meu coração batia cada vez mais forte à medida que a distância entre nós ia se encurtando. Ele subiu no palco, ficou na minha frente e sussurrou no meu ouvido:
-Providenciarei seu uniforme mais tarde, tudo bem? Devo confessar que não esperava por isso.
Eu ri, um pouco envergonhado, mas sussurrei de volta:
-Não tem problema.
Ambos ficamos eretos frente a frente, ele tirou um pingente azul do bolso e disse:
-Eu lhe concedo este pingente para nomeá-lo membro oficial da nação Delfos.
Abaixei um pouco a cabeça e ele colocou o pingente no meu pescoço. Nós nos olhamos por um momento até que ele fez um sinal para que eu saísse do palco com ele, acho que seria o mais... sensato... a se fazer, se é que existia sensatez no que eu fiz, mas isso não importava agora, de qualquer forma eu o segui. Ficamos naquele canto até a cerimônia acabar, foi quando minha mãe veio até mim. Estava claro que ela não estava conseguindo conter as lágrimas, mas apesar da tristeza ela também sorria, afinal, eu conseguira entrar para uma nação. Nós nos abraçamos, aquele abraço de despedida, era muito ruim perder alguém pela segunda vez, mas eu não a perderia.
-Eu vou poder ver meu filho com que frequência? - Ela se dirigiu ao líder delfi e era como se estivesse tratando da posse de algum território muito importante, pela autoridade com que falara.
-Aos finais de semana, quatro horas por dia na central de transporte. - Respondeu ele educadamente.
-Muito bem, eu entrego meu filho aos seus cuidados.
Deu a entender que ela destruiria casas da nação delfi se eu não tivesse minhas três refeições diárias, deu muito medo. Ela me abraçou novamente, mas dessa vez as lágrimas caíram e não foram só as do rosto dela.
-Agora você precisa ir, te amo meu filho.
Era tão difícil dizer alguma coisa, eu podia ficar aqui nos braços dela, pelo resto da vida, mas eu não podia...
-Também te amo mãe, nunca vamos nos separar.
Nós nos separamos e o líder delfi se dirigiu a mim:
-Muito bem então, acho que você precisa pegar suas malas... desculpe-me meu jovem, mas não sei seu nome.
Eu deixei um sorriso tímido escapar.
-Ângelo, senhor.
Seu rosto ficou indecifrável.
-Muito bem Ângelo, mas meu nome não é senhor, é Orpheu.
Eu estava confuso, não sabia se era uma represália ou uma observação.
-Ah, me desculpe... Orpheu.
-Bem melhor, - ele disse sorrindo. - acho que está na hora de irmos buscar suas malas.
Ele estava começando a andar quando eu me lembrei disso.
-Espera, eu já pensei nisso.
Lembrei da minha cama, do quarto e da mala, concentrei-me fielmente na mala.
-Transportar mala!
A mala apareceu na minha frente, mas quando eu a levantei ela estava leve demais. Só por curiosidade eu a abri... estava vazia. Minhas bochechas ficaram muito vermelhas, como eu pude fazer a magia errada na frente do líder da nação?! A maga que estava como guarda tomou a frente.
-Quer ajuda?
Na verdade eu queria que um raio caísse na minha cabeça naquele exato momento, como eu pude fazer aquilo?!
-Hum... eu não sei o que...
-Você se concentrou demais no objeto em si, precisava ser um pouco mais amplo que isso, pelo que vejo você usa magia negra, pode me mostrar onde a mala estava?
Eu arqueei a sobrancelha, indignado, como ela poderia saber disso?
-Tudo bem... eu mostro.
Deixei a magia negra livre e me concentrei mais uma vez na mala. Toquei o rosto da maga com as duas mãos e disse:
-Abra.
Agora eu estava na mente dela, era uma mente absolutamente complexa e eu estava muito perdido. A mente me mostrou uma porta escrita "Lembranças" e deixou bem claro onde estavam as armadilhas. Eu tinha muita dó de quem tentasse entrar na mente dela contra sua vontade, a pessoa não teria chance alguma. Entrei na sala das lembranças e coloquei a minha lembrança da mala lá dentro, me concentrei e saí.
-Ah, vamos tentar de novo então, Transportar mala. - ela disse.
Minha mala não se mexeu, mas a maga ficou indicando-a para mim.
-Vamos lá, abra a mala.
Para minha surpresa desta vez as coisas estavam lá dentro.
-Nossa, obrigado.
-Por nada, se for só isso, provavelmente podemos ir.
Ela sorriu e voltou ao seu lugar de guarda, o que me lembrou de reprimir a magia negra, fiz isso rapidamente, não queria ver ninguém triste. A maga me olhou com um olhar curioso quando eu fiz isso, mas acho que não era hora para perguntas. Quem tomou a decisão final foi Orpheu.
-Precisamos ir Ângelo.
-Está bem. - Virei-me e fiquei de frente para minha mãe, mais uma vez - Vemo-nos no próximo sábado, mãe. Às 15h?
Ela acariciou meu cabelo, daquele jeito de sempre, com um olhar sonhador e distante.
-Sim, às 15h, sentirei saudades.
-Eu também, muita...
Andamos em direção à saída. Para minha surpresa, encontrei entrando no salão a Carol.
-Ângeloooooooooooooo, eu me atrasei e... você está com um pingente azul e o líder delfi está com você e você está com uma mala... você vai embora?!
As lágrimas pularam do rosto dela e ela me abraçou com muita força.
-Ângelo, não quero te perder.
Eu entendi o que ela tinha querido dizer, e suas palavras me cortaram... perder...
-Você pode me visitar, com minha mãe, não se preocupe, você não vai me perder Carol...
Nossos olhos se encontraram, e eu vi a minha dor refletida nos olhos dela.
-Espero que você seja muito feliz, não nos conhecemos tão bem no final das contas.
Tantas lembranças me vieram à mente, aquelas lembranças que me fariam chorar por horas se eu continuasse pensando nelas...
-Foi o suficiente para eu sentir saudades de você futuramente, espero que você realmente vá me ver.
Fiquei chateado comigo mesmo por não me lembrar dela, se eu tivesse continuado nessa nação, ela seria uma boa amiga... mas infelizmente eu já tinha deixado essa vida para trás e eu não queria voltar atrás.
-Pode deixar, eu vou sim, mas agora preciso ir, estou atrasada para uma cerimônia que acho que já acabou.
Nem todas as mágoas conseguiram suprimir meu sorriso pelo momento dela.
-Eu também preciso ir, tem cinco pessoas querendo sair daqui e eu estou sendo a âncora deles.
Todos riram, mas ninguém me contradisse. Coloquei uma mão em seu rosto e a beijei, na bochecha.
-Até algum dia, se cuide Carol.
-Você também Ângelo.
Ela sorriu uma última vez e saiu correndo academia adentro, enquanto eu continuei caminhando para o portão de transporte. Ao chegarmos ao portão Orpheu mostrou o pingente dele, que era maior e mais bonito, ativando o portão, agora estávamos livres para ir. Dei uma última olhada para trás, eu estava abandonando meu passado e começaria uma nova vida, seria meu novo começo.
Orpheu colocou a mão no meu ombro, coloquei minha mão por cima da dele. Eu tremia, mas era isso. Dei um passo para frente e eles me seguiram para atravessar o portal.
Entrei numa sala muito iluminada, era uma sala feita por magia e era a conexão entre as duas nações, provavelmente esta era a central de transporte onde eu poderia ver minha mãe. Tinha uma porta com um circulo azul encima na minha frente, era a entrada da nação delfi, respirei fundo. Orpheu notou isso.
-Está tudo bem?
Dizer a ele que no nível de estresse em que eu me encontrava era bem provável que eu fosse matar alguém a qualquer momento não ajudaria, então simplesmente disse:
-Sim, é só que... bem, eu devo admitir que estou com medo.
Minha cabeça estava meio baixa e era bom ser sincero com alguém, em parte. Ele colocou a mão no meu queixo e levantou minha cabeça para olhá-lo.
-Vai ficar tudo bem Ângelo, não se preocupe com isso agora. Essas pessoas que estão comigo são os diretores dos centros de ensino, sua diretora é Aglaope, a maga que te ajudou com sua magia, qualquer coisa que você precisar, pode contar conosco.
Isso me acalmou e agora eu sabia por que a maga tinha me olhado com curiosidade, ela era minha diretora e por isso ela se preocupava comigo.
-Obrigado, de verdade.
Acho que agora eu estava pronto, olhei pra trás e a maga piscou pra mim, acho que isso era um "É, eu vou cuidar de você.", eu ri.
-Bem, então vamos. - Eu disse isso com entusiasmo, agora eu queria descobrir como era o meu novo mundo.
Andamos até a porta e novamente Orpheu mostrou sua pedra para abrir passagem. Entrei na porta.

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Prefácio

Marcelo é um espadachim de fogo e seu sonho está muito próximo de se tornar realidade.
Ângelo é um mago de gelo com uma vida prestes a mudar.
Miro é um guerreiro de fogo com sérios problemas com seu rival.
Glaucos é um arqueiro de vento galanteador e de vida fácil.
Cada um deles tem um segredo, os quais estão prestes a serem revelados.

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