Era uma vez um passarinho ferido numa noite gélida. Eu o vi sobre a neve, senti medo. Corri em sua busca, apanhei-o e o trouxe para dentro de casa. Por sorte, ainda respirava. Coloquei-o perto da lareira para que o pobre animal conseguisse se aquecer. Seus olhos foram ganhando vida à medida que o calor o reabastecia. Ao se levantar, tentou alçar vôo. Em vão. Uma de suas asas estava quebrada. Forrei uma blusa numa caixa de sapatos e o coloquei dentro. Enquanto fui buscar o kit de primeiro socorros, notara que ele havia tentado voar uma vez mais. Parecia ainda mais machucado pela tentativa. Tentei acalmá-lo, mas a selvageria de sua natureza era mais forte que minhas doces palavras. Fiz um curativo em sua asa, sob reclamações e bicadas. Ao acabar, tinha várias marcas na mão e o pássaro pareceu cansado. Tive medo uma segunda vez, não queria ter lhe feito mal. Mas ele estava apenas cansado mesmo. Foi dormir. Eu também. Durante alguns dias eu cuidei do passarinho, e ele começou a confiar em mim. Ao fim de uma semana, o passarinho já voava pela casa. Gritava contente, mas queria ir pra fora. A neve já tinha se acabado, mas eu ainda o queria! Ele olhava lá pra fora. Desejo transpassava em seus olhos. Desejo também transpassava os meus. Com absoluta dor no coração, não antes de dar uma última olhada no passarinho, abri a janela. Ele saiu voando contente. Levou parte de mim. Por alguns dias eu fiquei olhando a janela. Talvez esperando ele voltar. Talvez esperando ouro passarinho se ferir. Não sei. Eu precisava preencher aquele vazio. Mas para isso eu teria que machucar ou acorrentar um pássaro? Não. Eu não podia fazer aquilo. Mas tinha sido tão bom... Chorei. Chorei até que todas as mágoas já tivessem ido embora. Que o passarinho tivesse as levado. Muito pelo contrário. Por um momento eu queria que ele nunca tivesse aparecido. Eu jamais teria sabido como ele era, como era bom tê-lo. Isso também era errado. Eu havia aproveitado, não podia praguejá-lo. Acredito que no fim das contas temos isso e apenas isso. Uma série de alegrias e tristezas. Seres que vêm. Seres que vão. E o que nos sobra? Saudade.

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Prefácio

Marcelo é um espadachim de fogo e seu sonho está muito próximo de se tornar realidade.
Ângelo é um mago de gelo com uma vida prestes a mudar.
Miro é um guerreiro de fogo com sérios problemas com seu rival.
Glaucos é um arqueiro de vento galanteador e de vida fácil.
Cada um deles tem um segredo, os quais estão prestes a serem revelados.

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